Após meses em relativa calmaria, na semana passada, o dólar rompeu a barreira dos R$ 2,40 e atingiu R$ 2,44 na sexta-feira 26, uma das maiores cotações do ano. A escalada da moeda americana é motivada pelo cenário internacional e pelas incertezas provocadas pelas eleições presidenciais no Brasil. Para tentar conter a desvalorização do real, o Banco Central anunciou que irá dobrar sua intervenção diária no câmbio até o fim do mês. Mas as instabilidades externas, tanto econômicas quanto geopolíticas, e internas mostram que a tarefa do BC não será fácil e que a tendência da moeda é de alta.

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CAMINHO DO AEROPORTO
Os gastos dos brasileiros em outros países batem recordes e nem os picos
de valorização do dólar conseguiram conter o ânimo para gastar de quem viaja

O dólar está se valorizando no mundo porque os Estados Unidos estão retirando os estímulos à economia e há expectativa de que a taxa de juros no país pode subir em 2015, tornando-o mais atrativo para investidores. Enquanto isso, os dados econômicos da Europa mostram certa fragilidade e as guerras na Ucrânia e no Oriente Médio geram dúvidas. O Brasil agrega a esse quadro o componente eleitoral. “A eleição atual é uma incerteza, não tem um candidato favorito no primeiro turno em que o mercado confie 100%”, diz André Sacconato, diretor de pesquisa da consultoria Brasil Investimentos & Negócios (BRAiN). “Para se garantir, as instituições então estão comprando dólar.” Quanto mais a candidatura da presidenta Dilma Roussef se fortalece, mais a moeda americana sobe.

Nos últimos anos, os governos optaram por manter o câmbio apreciado, estimulando, por exemplo, as compras no exterior. Os gastos dos brasileiros lá fora vêm se superando – foram US$ 2,35 bilhões em agosto, um recorde para o mês – e nem os picos de valorização do dólar que ocorreram em agosto de 2013 e fevereiro passado conseguiram conter o ânimo para gastar de quem viaja. Manter o dólar em um patamar baixo virou uma arma para segurar os preços no Brasil. “A inflação está alta e o governo não quer subir os juros e diminuir as despesas. Com isso, a última manobra é a taxa de câmbio, que não deveria ser uma ferramenta de controle inflacionário”, afirma o economista Bruno Lavieri, da consultoria Tendências.

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FUTURO
Expectativa de que taxa de juros suba em 2015 torna os EUA mais
atraentes para os investidores, o que pressiona o dólar

Quem pagou a conta foi o setor industrial, que não conseguiu exportar e vem perdendo importância econômica no País. A indústria representa, hoje, 12% do PIB e esse percentual já foi de 20%. O País se tornou um grande comprador de produtos da China, de roupas a eletrônicos. Um estudo da Universidade de São Paulo (USP) estima que a importação de manufaturados chineses pelo Brasil tenha gerado seis milhões de empregos em terras orientais em uma década, sobretudo nos últimos três ou quatro anos, período de maior valorização do real. “É pouco para eles, mas para o Brasil é muito significativo”, diz Paulo Roberto Feldmann, professor de economia da USP, para quem ficou muito difícil exportar e competir porque a China mantém sua moeda desvalorizada para facilitar as exportações. “Agora era a hora adequada para deixar o dólar se valorizar porque o consumo caiu. Mas o governo não deixa por causa da eleição”, completa.

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A dúvida é o fôlego que essa alta do dólar terá e como o próximo governo pretende lidar com a moeda americana. Instabilidade cambial não tem impacto positivo sobre o setor industrial. “Não podemos ter um olhar imediatista sobre o câmbio, como se no curto prazo pudesse promover grandes alterações ou mudanças”, diz Paulo Francini, diretor do Departamento de Pesquisas e Estudos Econômicos da Federação das Indústrias de São Paulo (Fiesp). “A indústria precisa ter como fundamento uma taxa confiável, ou seja, que possa prever qual será no futuro.” Ele espera que, vencido o período eleitoral, haja um novo olhar sobre a questão cambial.  


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