A Galeria Leme foi inaugurada em 2004 no bairro do Butantã, em SP, em um edifício projetado por Paulo Mendes da Rocha, que rapidamente se tornou um marco arquitetônico do circuito de arte da capital paulista. Em 2012, a galeria foi demolida para a construção de um edifício de escritórios e se transferiu para novo endereço, a 300 metros do original, em um prédio praticamente idêntico. Essa breve história do desaparecimento e do ressurgimento da galeria estimulou a pesquisa do curador Tomás Toledo sobre o desenvolvimento urbano de São Paulo, pautado por ciclos de construção, demolição e reconstrução. A exposição coletiva “Taipa-Tapume”, resultante da pesquisa, tem seu título emprestado do livro “Da Taipa ao Concreto”, de Carlos Lemos, que aborda dois elementos construtivos historicamente dominantes de São Paulo. Embora a Galeria Leme seja toda construída em concreto aparente, Toledo substituiu o concreto pelo tapume, em alusão ao estado permanentemente em obras da cidade.

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Ao contrário do que vivenciamos diariamente no espaço urbano que nos cerca, a exposição é rigorosa e meticulosamente construída. Desde a escolha de obras que trabalham com os materiais predominantes da arquitetura paulistana – o barro nos trabalhos de Hector Zamora e de Alexandre Brandão; o espelho na escultura de Jaime Lauriano; a madeira descartada na instalação de Ana Mazzei (foto) e o concreto na obra de Sandra Gamarra – até a ocupação cuidadosa dos espaços interiores e exteriores da galeria. Os trabalhos dos 12 artistas participantes foram instalados na calçada da rua, no pátio interno, nas duas salas e na passarela que liga os dois blocos da galeria. Ocupa essa área em suspensão a instalação sonora de Bruno Baptistelli que se apropria de trecho da música “Da Ponte para Cá”, do grupo Racionais MC’s, estabelecendo uma relação metafórica entre os dois blocos do edifício e as pontes dos rios Pinheiros e Tietê, que separam o centro expandido das regiões periféricas da cidade. “Os trabalhos e seus posicionamentos no espaço propõem a ideia da construção como edificação material, mas também como elaboração conceitual”, diz Toledo. A ponte/passarela liga dois segmentos de trabalhos: os que articulam perspectivas críticas sobre os processos de construção e demolição e aqueles que problematizam a especulação imobiliária.

Foto: Paula Alzugaray