Engajados, exibindo adesivos, broches e bandeiras, quase quatro milhões de escoceses, num comparecimento recorde de 84,6% do eleitorado, foram às urnas na quinta-feira 18 decidir se queriam ser independentes. Na manhã da sexta-feira 19, o resultado do plebiscito manteve uma resolução que já dura 307 anos: 55% dos eleitores optaram por manter-se no Reino Unido, que também inclui Inglaterra, Irlanda do Norte e País de Gales. “Juntos somos mais fortes”, decidiram os escoceses. Aliviado, o primeiro-ministro britânico, David Cameron, disse estar satisfeito com o voto a favor da união. O custo dessa vitória, no entanto, poderá sair caro para o conservador num momento em que seu governo está comprometido com uma política econômica cada vez mais austera.

abre.jpg
RECONCILIAÇÃO
Acima, a rainha Elizabeth posa ao lado de membros do Primeiro Batalhão
de Argyll e Sutherland, baseado na Escócia: a monarca pediu que os escoceses
votassem com cautela. Abaixo, eleitores comemoram a vitória do “não”,
que garantiu a permanência do país no Reino Unido

SUDITOS-X-IE-2339.jpg

A Escócia sai do plebiscito com garantias de mais autonomia. Enquanto a independência parecia distante, a campanha nacionalista pelo “sim” ficou livre por dois anos para tentar convencer os escoceses de que o futuro do país era brilhante fora do Reino Unido. Sobre ela, pairavam desconfianças em relação ao impacto econômico da secessão (os nacionalistas queriam manter a libra esterlina, Londres rejeitava a união monetária) e ameaças de bancos e empresas, que cogitavam mudar sua sede para a Inglaterra. Mas o governo britânico só acordou para o risco de separação há menos de um mês. No fim de agosto, Alex Salmond, líder do Parlamento escocês, foi considerado o vencedor de um debate na tevê com o trabalhista Alistair Darling, chefe da campanha pelo “não”. As pesquisas de opinião começaram a mostrar a ascensão do apoio ao separatismo e, a 48 horas da votação, os três principais partidos britânicos se uniram numa promessa para conceder mais autonomia à Escócia e evitar um desastre político. Com o resultado favorável, a partir de janeiro o país poderá decidir sozinho em questões que envolvem, por exemplo, seu sistema público de saúde e o sistema tributário.

SUDITOS-02-IE.jpg
NACIONALISMO
Manifestantes pró-independência levantam placas contra o governo conservador
durante campanha no subúrbio de Edimburgo. Os eleitores mais jovens
votaram em peso pelo "sim" na quinta-feira

Para David Moon, professor de política da Universidade de Bath, na Inglaterra, a impopularidade de Cameron entre os escoceses – em geral, mais esquerdistas que os ingleses – o manteve longe da campanha na maior parte do tempo e a liderança do “não” acabou na mão de representantes do Partido Trabalhista, como Darling e Gordon Brown, primeiro-ministro entre 2007 e 2010. De acordo com essa estratégia, Cameron não sairia como único culpado numa eventual derrota. “Ainda assim, a vitória oferece pouco conforto porque ela ocorreu apesar do primeiro-ministro, e não por causa dele”, disse Moon à ISTOÉ. “Suas intervenções na reta final pareceram desesperadas e a oferta de novos poderes, sem a consulta a seu próprio gabinete, é questionável.” Cameron disse que manterá sua palavra, o que pode trazer algumas implicações indesejadas à economia, como o aumento dos gastos destinados à Escócia em comparação com o resto do Reino Unido. “Se não for apoiada por impostos igualmente mais elevados, mais autonomia pode frustrar o programa de austeridade, projetado para reduzir o déficit e a dívida do governo”, afirma o economista britânico Christopher Martin.

Assine nossa newsletter:

Inscreva-se nas nossas newsletters e receba as principais notícias do dia em seu e-mail

Apesar da derrota, o resultado do plebiscito mostra que o nacionalismo escocês pode ainda representar uma pedra no sapato britânico. Na maior cidade da Escócia, Glasgow, o “sim” obteve 53%. Uma pesquisa do instituto Lord Ashcroft mostrou que os eleitores pró-independência decidiram seu voto na última hora e que os jovens entre 16 e 17 anos votaram em peso pela separação: 71%.

IEpag72e73_Suditos-2.jpg

Fotos: Kirsty Wigglesworth/Pool /Reuters; Andy Rain/EFE; LESLEY MARTIN/AFP Photo 


Siga a IstoÉ no Google News e receba alertas sobre as principais notícias