Um dos maiores mistérios da arqueologia naval do planeta começa a ser desvendado. Arqueólogos e mergulhadores canadenses encontraram, próximo ao Arquipélago do Ártico, um navio britânico de exploração da era vitoriana, desaparecido há 165 anos. As imagens de sonar produzidas pela expedição no estreito de Victoria, no noroeste do Canadá, mostram claramente as ruínas de uma embarcação no solo oceânico. A partir delas, segundo o arqueólogo britânico William Battersby, é possível perceber evidências impressionantes de que as condições marinhas preservaram inclusive restos mortais humanos. “Esse é um momento histórico”, comemorou o primeiro-ministro canadense, Stephen Harper.

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FOTOGRAFIA
Sonar captou as imagens da embarcação em solo oceânico

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O mistério começa em maio de 1845, quando o capitão da Marinha real britânica Sir John Franklin partiu da Inglaterra com dois navios: HMS Erebus e HMS Terror. Sua expedição, com 129 homens, buscava novas rotas no território noroeste do Ártico Canadense. Subitamente, o contato foi perdido. Historiadores acreditam que as embarcações se prenderam a uma espessa camada de gelo marinho. Sem notícias dos tripulantes, rumores começaram a circular. Diziam que os integrantes haviam congelado ou atingido um nível tal de fome a ponto de recorrer ao canibalismo. Em desespero, a mulher de Franklin enviou cinco navios para buscá-lo e deixou latas de comida sobre blocos de gelo no caminho, na esperança que o marido as encontrasse.

Mais de um século depois, o mistério ainda servia de combustível para lendas. Nos anos 1980, três corpos foram descobertos e apresentavam alta taxa de chumbo, dando margem a especulações sobre envenenamento gerado pelo contato entre os alimentos e as paredes das embalagens de lata por serem mal soldadas. No entanto, pesquisas recentes indicam que a comida das embarcações não era ácida o suficiente para promover esse tipo de reação química e que era mais provável o chumbo ter saído do sistema de tubulação. 

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Cerca de 50 expedições já haviam procurado em vão pelos destroços dos navios. O governo canadense começou a busca em 2008 como parte da estratégia para manter sua soberania sobre a Passagem do Noroeste – rota marítima ligando o Atlântico ao Pacífico através do Arquipélago do Ártico – que recentemente se tornou acessível a embarcações por conta do derretimento das placas de gelo.

Foto: The Canadian Press,Adrian Wyld/AP Photo/Glow Images