Espalhada por 900 quilômetros, a fronteira que separa a Turquia da Síria é hoje o fim da rota mais utilizada por jovens europeus interessados em se juntar a milícias jihadistas. Na semana passada, a identificação de “John”, o homem que decapitou o jornalista americano James Foley, como um cidadão britânico mostrou que por mais que o terror praticado por grupos como o Estado Islâmico (EI) assuste o mundo ocidental ele também exerce forte atração. Estima-se que mais de dois mil soldados do EI sejam estrangeiros, sendo a maioria deles europeia – e, na Síria, campos de treinamento os esperam.

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EXÉRCITO INTERNACIONAL
Soldados do EI marcham na cidade síria de Raqa.
Abaixo, o britânico Abdel Bary, 23 anos, e o belga Younes Abaaoud, 13

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Há um ano, a ampla fronteira era estratégica para a Turquia, que se interessava na queda do presidente sírio Bashar al-Assad, envolto numa guerra civil há três anos. Assad chegou a acusar o país de facilitar o acesso de terroristas e declarou que a “Turquia iria pagar um preço alto por isso.” Agora os turcos sofrem pressão internacional para conter esse fluxo. Em resposta, Ancara diz que aumentou o controle em seus aeroportos e fronteiras, mas que outros países devem checar seus cidadãos antes de eles entrarem em território turco.

No Reino Unido, o caminho usado tem sido endurecer a legislação. A ministra do Interior, Theresa May, prometeu coibir pregações extremistas e de ódio, além de confiscar o passaporte britânico de suspeitos de terrorismo. O prefeito de Londres, Boris Johnson, chegou a propor que a presunção de inocência dos cidadãos que viajem ao Iraque e à Síria fosse revogada. Para Johnson, quem quiser viajar sem comunicar o governo deve ser considerado culpado. Embora o perfil dos terroristas seja difuso, segundo o Centro Internacional para Estudo da Radicalização do King’s College, de Londres, o sistema penitenciário é uma passagem comum na vida dos europeus que se juntam à jihad. Na cadeia, onde a proporção de muçulmanos presos é maior que na população geral, eles estariam mais suscetíveis ao extremismo.

PODERIO
Sem o patrocínio de uma potência estrangeira, o Estado Islâmico
se financia com sequestros, roubos e contrabando de petróleo

As campanhas na internet, que incluem vídeos, fotos e publicações em redes sociais, também têm papel importante para o recrutamento. “A propaganda via redes sociais é tão ampla que, muitas vezes, os jovens não têm consciência de que estão sendo recrutados”, disse à ISTOÉ Patricia DeGennaro, especialista em segurança internacional da Universidade de Nova York e do World Policy Institute. Para Gregory Gause, do instituto Brookings Doha Center, “uma das grandes forças do EI na propaganda é não ser cliente de uma potência estrangeira”. O poderio econômico do EI, que chega a US$ 2 bilhões em ativos – montante que o eleva à condição de grupo terrorista mais rico da história –, vem do pagamento de resgates de reféns, roubos e extorsões, cobrança de tributos das populações dominadas (ao menos oito milhões de pessoas vivem sob as ordens do califado) e, sobretudo, da venda e contrabando de petróleo (eles controlam campos e refinarias).

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No topo das preocupações dos governos ocidentais está o possível retorno desses soldados a seus países de origem, onde coordenariam atentados terroristas. Em maio, um francês que havia lutado ao lado da oposição na Síria matou quatro pessoas num ataque a um museu judaico em Bruxelas, na Bélgica. Alguns estudos, porém, indicam que os jovens jihadistas estariam mais comprometidos a dar a vida pela construção de um Estado Islâmico no Oriente Médio. Esse pode ser um problema ainda maior.

Fotos: AP Photo/Militant Website; Reprodução; AFP PHOTO/BERTRAND GUAY