Capturado no Paraguai após mais de três anos foragido depois de ser condenado a 278 anos de prisão pelo estupro de 37 mulheres, o ex-médico Roger Abdelmassih teve apoio de uma ampla rede de proteção enquanto esteve foragido. Manteve contato com parentes, amigos e até com um psiquiatra de São Paulo com quem ele e a mulher, a ex-procuradora Larissa Sacco, fizeram terapia de casal durante a estada no Exterior. Tinha tanta segurança de que não corria perigo de ser pego que visitou regularmente o Brasil nesse período. O porto seguro era Jaboticabal (SP), terra natal de Larissa. Segundo as investigações iniciais, o casal usou uma casa num pacato bairro do município para se encontrar com a família quando já viviam no Paraguai. Elaine Sacco, cunhada do ex-médico, manteve o imóvel alugado entre 23 de março de 2012 e 15 de fevereiro de 2013. ISTOÉ apurou que Abdelmassih participou, inclusive, de um churrasco para 15 pessoas no local em 2012. O grupo de vítimas do ex-médico recebeu relatos semelhantes de moradores de Jaboticabal.

abre.jpg
PORTO SEGURO
Elaine Sacco, cunhada de Abdelmassih, alugou por um ano a casa
onde ele participou de um churrasco para 15 pessoas em 2012

ESCAPADA-02-IE-2336.jpg

As pessoas mais próximas também operavam uma diversificada engenharia financeira para permitir que a fortuna acumulada pelo ex-médico no Brasil cruzasse a fronteira. Abdelmassih recebeu, por exemplo, recursos de Ruy Marco Antônio, ex-dono do Hospital São Luiz, em São Paulo. Mas o Ministério Público (MP) suspeita que a maior parte dos repasses se dava por outras duas frentes. A primeira envolvia grandes quantidades de dinheiro em espécie, escondido provavelmente em São Paulo e Jaboticabal. O MP trabalha com a hipótese de que os valores eram intermediados pela cunhada Elaine e por Maria Stela Abdelmassih, irmã do ex-médico. Era notório que ele aceitava pagamento em dólares na sua clínica. A investigação aponta que funcionários da família faziam o transporte até o Paraguai.

A segunda envolvia um esquema de lavagem de dinheiro. Uma das empresas por trás da rede seria a Colamar, aberta no nome de Larissa e controlada por Elaine, que teria como objetivo remeter, às escondidas, recursos para o casal. Uma das suspeitas do MP recai sobre negociações feitas em 2010 entre a Colamar e uma produtora de frutas de Bebedouro (SP). A produtora destinou ao menos R$ 5,2 milhões à companhia dos Abdelmassih. Também está na mira do MP um banco paulistano dono de fazendas que pertenceram ao condenado. A transferência de propriedade foi feita em 2009, às vésperas da condenação, mas até hoje a instituição não passou as terras adiante. Usadas para o cultivo de laranjas, elas demandam uma expertise que não faz parte das atividades de um banco. A promotoria ainda investiga o caso, e os envolvidos poderão responder por lavagem de dinheiro, falsidade documental e favorecimento pessoal. ISTOÉ procurou Maria Stela e Elaine, mas elas não se pronunciaram. 

Assine nossa newsletter:

Inscreva-se nas nossas newsletters e receba as principais notícias do dia em seu e-mail

Siga a IstoÉ no Google News e receba alertas sobre as principais notícias