Acontece em toda época de eleição presidencial. À medida que o pleito vai se aproximando, os eleitores passam a prestar mais atenção na propaganda de TV dos candidatos e, principalmente, a exigir e comparar as propostas apresentadas pelos aspirantes a comandar o País. Neste ano, especificamente, em meio a um cenário de crescimento pífio, inflação em alta e diminuição do poder de compra pela população, a economia tem merecido um olhar mais apurado do eleitor. Para não embarcarem numa nau furada, procuram saber qual candidato será capaz de recolocar a política econômica – hoje navegando em mar revolto – no prumo.

abre.jpg

Na corrida para tornar as ideias mais claras e conhecidas, o presidenciável Aécio Neves (PSDB) foi o primeiro a içar as velas. Diante de um eleitorado em busca de mudança e de setores econômicos ávidos por soluções para espantar a crise, Aécio baixou suas cartas e anunciou o economista Armínio Fraga como ministro da Fazenda, caso ele seja eleito. O anúncio foi feito durante as considerações finais do debate presidencial realizado pela Band na terça-feira 26. Com a declaração, o tucano sinalizou para um perfil mais ortodoxo da economia em eventual mandato e deixou clara sua prioridade para o controle rigoroso dos gastos públicos. Também foi uma demonstração de que garantirá previsibilidade e segurança na condução da política econômica. Não por acaso, nas pesquisas qualitativas realizadas pela equipe do PSDB durante o debate, o nome de Aécio foi associado a termos como “segurança” e “clareza de propostas”. Na avaliação do candidato, se, nas próximas semanas, ele conseguir personificar “a marca da confiabilidade”, os eleitores que anseiam por mudanças – quase 70% da população – optarão por ele no dia 5 de outubro. Hoje, segundo as últimas pesquisas, a maioria desses eleitores mudancistas se mostra inclinada a votar em Marina Silva – em segundo lugar na corrida presidencial.

CARAVELA-04-IE.jpg
O PRIMEIRO ENCONTRO
No debate da Band, Aécio Neves, candidato do PSDB, foi o que mais
explicitou as propostas para o País. Marina Silva, do PSB, preferiu
trabalhar os conceitos genéricos e Dilma Rousseff (PT), os números

O freio nas despesas do Estado e a retomada do tripé econômico formado pelo regime de metas de inflação, câmbio flutuante e responsabilidade fiscal, propostos por Aécio Neves, marcam um contraponto essencial ao atual governo do PT. Para estimular a economia, a equipe de Dilma Rousseff seguiu a receita adotada pelo governo Lula em seu segundo mandato para sobreviver à crise internacional, qual seja: o aumento dos gastos públicos e o estímulo ao consumo com maior oferta de crédito. A estratégia funcionou com Lula, mas o modelo se revela esgotado. “O que quero demonstrar é o meu compromisso com a segurança econômica e a responsabilidade fiscal”, disse Aécio ao justificar o anúncio do ministro da Fazenda na semana passada. “O Brasil não é para amadores”, reforçou o tucano em entrevista no dia seguinte ao debate, repetindo, com outras palavras, frase cunhada pelo compositor Tom Jobim, para quem o País não era para principiantes.

IEpag36a39_Caravela-3.jpg

Ao contrário de Aécio, a candidata do PSB à Presidência, Marina Silva tem preferido trabalhar com conceitos e procurado driblar propostas específicas. Os principais deles: o de que o Brasil está cansado da polarização entre o PT e o PSDB e que ela é a mais talhada para unir o País em torno de projetos capazes de debelar a crise econômica. Ela, porém, não explica como poderá fazer o seu discurso virar prática. Apenas na quinta-feira 28, Marina esboçou o seu programa de governo. Mesmo assim, sem detalhamento das propostas. Em linhas gerais, a candidata do PSB garante que irá trabalhar pelo aumento da produtividade e pela recuperação da confiança dos investidores no País. A presença de colaboradores como o economista Eduardo Gianetti da Fonseca na campanha de Marina facilita a leitura do mercado sobre um eventual governo da candidata, especialmente porque Fonseca dialoga diretamente com o setor financeiro. “Se Marina for eleita, fará um governo mais parecido com o primeiro mandato de Lula, com atenção especial ao ajuste de contas”, tem dito Giannetti em recentes entrevistas. Em outra frente, o vice na chapa, deputado Beto Albuquerque, iniciou uma ofensiva de aproximação entre a candidata e o agronegócio, que representa 23% do Produto Interno Bruto (PIB) do País. Marina, que como parlamentar sempre se opôs aos ruralistas, agora quer convencê-los de que suas ideias para alavancar o crescimento do Brasil não se contrapõem aos setores produtivos.

CARAVELA-03-IE-2336.jpg
JOGO ABERTO
Marina Silva e Aécio Neves discutem estratégias com assessores.
Apesar da ascensão da candidata do PSB, cenário ainda
é imprevisível faltando um mês para as eleições

A candidata do PSB ainda defende a institucionalização da independência do Banco Central. Segundo a ex-senadora, o compromisso de formalizar a autonomia do BC já havia sido assumido por Eduardo Campos, que comandava a chapa presidencial do PSB até sua morte trágica em um acidente de avião há três semanas. “Nós somos favoráveis à institucionalização. E existem vários modelos que estão sendo estudados para ver como ela se efetivará”, disse Marina. “Entendemos que era preciso dar um sinal forte, dizendo que a autonomia de fato, que agora estava sendo desacreditada, precisava agora ser institucionalizada”, acrescentou ela mais uma vez sem detalhar suas palavras.
A necessidade de se apresentar como candidata capaz de promover o crescimento do País e as mudanças desejadas pela população para os próximos anos, em meio a um cenário econômico desolador, vem impondo um desafio para a equipe da presidenta Dilma Rousseff, hoje alvo de todos os candidatos a sucedê-la no Palácio do Planalto. Para tentar sair da enrascada, nas entrevistas e debates a abordagem dos índices econômicos foi substituída pelos números do desemprego acumulado ao longo dos anos em que o PT comandou o País, e pelo aumento na renda das famílias brasileiras. Dilma tem pregado o esforço da sua equipe econômica – cuja atuação considera bem- sucedida – para manter o controle da inflação, que chega a quase 7% ao ano. Com esse discurso, a ideia da candidata à reeleição é mostrar que os índices do seu governo sofreram com o cenário internacional e que ela reúne as melhores condições para prover o efetivo crescimento do Brasil. As cartas foram postas na mesa. Com a palavra, o eleitor.

IEpag36a39_Caravela-4.jpg