Desesperados. É assim que estão os grandes fabricantes de chuveiros elétricos no Brasil – Cardal, Lorenzetti, Duchas Corona e Fame – desde que o chuveiro foi eleito vilão do racionamento de energia. As vendas caíram 20%, o estoque aumenta e, para completar, a carga tributária sobre o produto subiu. O Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI) pulou de 10% para 40% e o ICMS, que hoje é de 18%, também poderá aumentar nos próximos dias. As indústrias suspenderam as contratações e já ameaçam demitir metade de seus funcionários. O anúncio foi feito ao Sindicato dos Metalúrgicos de São Paulo e à Força Sindical. “Não temos como suportar a queda nas vendas, o aumento de impostos e ainda economizar 25% de energia”, disse o engenheiro Carlos Alexandre Cella, gerente industrial da Cardal. O setor emprega hoje sete mil trabalhadores que resultam em 35 mil empregos indiretos. Segundo os empresários, com o aumento de tributos, o chuveiro ficará mais caro e as vendas cairão ainda mais, provocando o desemprego. Eduardo José Coli, diretor de recursos humanos da Lorenzetti, garante que o setor já deixou de contratar 30% do volume habitual. “Estamos sendo duplamente penalizados, pelo racionamento e pelo aumento de alíquota que beneficia fabricantes de lâmpadas eletrônicas importadas”, diz Coli. A Lorenzetti está no mercado há 77 anos. “Não temos outra saída que não seja o corte de pessoal. Com a política adotada, o governo está demitindo o brasileiro e dando emprego aos chineses”, ressaltou Coli. De acordo com ele, se existem vilões, seriam “a geladeira e o freezer, pois funcionam 24 horas por dia.”

Nos países desenvolvidos há chuveiros elétricos com potências de até 28 mil watts. Os nossos variam de três mil a oito mil watts, com regulagens de três até seis posições. O coordenador de exportação da Duchas Corona, Nabil Thomé, afirma que o chuveiro brasileiro não é de alta potência. “O nosso produto é adequado para o clima brasileiro. Na Inglaterra e na Malásia são fabricados produtos com oito mil a 11 mil watts, tidos como economizadores de energia.” Thomé sugere: “Em vez de desacelerar

o setor, o ideal seria adotar uma campanha de uso racional e não transformar o chuveiro em algo abominável.” Segundo Cella, o chuveiro é um grande economizador de água. Para um banho de cinco a oito minutos, explica ele, consome de três a cinco litros de água por minuto. Outro sistema de aquecimento, seja solar ou a gás, gasta no mínimo de dez a 15 litros. A tradicional Fame, no mercado há 60 anos, assegura que uma ducha de 220 volts e 4.800 watts, usada 40 minutos por dia – sendo quatro meses na posição morna e oito meses na posição quente –, resulta numa média de 18,5 kWh por mês. Ou seja, num gasto de R$ 4,44.

Para o presidente do Sindicato dos Engenheiros do Estado de São Paulo, Paulo Tromboni, o quadro poderia ser revertido se os fabricantes lançassem o “chuveiro econômico” com potência inferior a 4.000 watts – modelo menos afetado pelo aumento nos impostos. “Essa era a potência dos aparelhos há 12 anos. Não me lembro de ter tomado banho frio”, brinca Tromboni. Algumas fábricas, como Corona e Fame, até já produzem modelos menos potentes que, embora gastem menos energia, não dão conta de aquecer um grande volume de água. O problema é que a produção desse tipo de aparelho há tempo vem se limitando ao mercado do Norte e Nordeste do País. “Tiramos essa linha do Sudeste porque o consumidor de cidades mais frias sempre preferiu a maior potência, que garante um jato mais forte de água quente”, explica o gerente de vendas da Corona, Roberto Boragina.

O fato é que o fantasma da recessão voltou a assombrar. O secretário municipal de Trabalho de São Paulo, Márcio Pochmann, revela que já existem 850 mil desempregados na cidade. E adverte que outros 78 mil deverão perder o emprego por causa do apagão. Pochmann alerta ser um número subestimado, porque não se sabe ainda qual será o impacto inflacionário. “O Brasil mais uma vez volta a uma oscilação extremamente negativa do ponto de vista do crescimento econômico e perverso do ponto de vista social”, lamentou Pochmann. O presidente do Sindicato dos Metalúrgicos de São Paulo, Ramiro de Jesus Pinto, critica o aumento da carga tributária no setor de chuveiros. “É uma verdadeira bomba, e isso tudo representa diminuição na produção e consequentemente desemprego. O governo está pegando a peãozada que toma banho quente como bode expiatório”, criticou Jesus. Para economizar energia, ele já está tomando banho frio.