Ajoelhado em meio a uma paisagem desértica, o homem vestido com um uniforme laranja diz obedientemente suas últimas palavras: “Acho que, no fim das contas, eu preferiria não ser americano”. O vídeo da decapitação do jornalista James Foley, intitulado “Uma mensagem para a América”, levou às redes sociais, na semana passada, uma amostra da barbárie do grupo extremista Estado Islâmico (EI) na Síria e no Iraque. O jornalista tinha 40 anos e havia desaparecido em novembro de 2012 enquanto cobria a guerra civil na Síria. Seus pais, que receberam um e-mail dos raptores em 13 de agosto, se disseram aliviados por ele estar “finalmente livre”. Os Estados Unidos se recusaram a pagar o resgate de US$ 132,5 milhões, mas admitiram que tentaram sem sucesso libertar reféns há dois meses. Nas imagens, depois de Foley culpar o governo americano por seu iminente assassinato, o carrasco do jornalista, todo de preto, apenas com os olhos expostos e munido de uma faca rudimentar, avisa ao presidente Barack Obama: “Você não está mais lutando contra uma insurgência, nós somos um Estado Islâmico.”

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CRUELDADE
James Foley (de laranja) antes da decapitação: “Eu preferiria não ser americano”

A divulgação do vídeo arrastou os Estados Unidos para o centro de um conflito em que até então evitava se aprofundar. Em junho, quando os jihadistas iniciaram sua ofensiva, tomando Mossul, a segunda maior cidade do Iraque, o Pentágono enviou assessores militares para colaborarem com as autoridades de Bagdá e do Curdistão. No começo de agosto, a estratégia incluiu ataques aéreos limitados com o objetivo de conter o avanço dos sunitas do EI e libertar a minoria yazidi ameaçada de genocídio. Foram pouco mais de 90 ataques de 8 de agosto até a semana passada. Isso não impediu que o grupo radical conquistasse grandes porções de terra entre o norte do Iraque e a Síria, onde controlam represas e poços de petróleo, e lá estabelecesse um califado. Agora a expectativa é de uma ação militar mais ampla coordenada pelos Estados Unidos.

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ULTIMATO
Os pais do jornalista receberam um e-mail dos raptores,
mas o governo não quis pagar resgate

Na quinta-feira 21, o Pentágono classificou o Estado Islâmico como uma organização “apocalíptica” e o secretário de Estado americano, John Kerry, foi categórico: “Ela deve ser destruída”. No Reino Unido, o sotaque britânico do guerreiro mascarado que aparece degolando James Foley, identificado como “John”, pressionou o governo a endurecer as leis contra os jihadistas domésticos. Acredita-se que entre 400 e 500 britânicos estejam lutando ao lado do EI.

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