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Até chegar ao Brasil, em 1946, Lina Bo Bardi nunca tinha visto um edifício seu sair do papel. Formada em arquitetura no período entre guerras, a jovem estagiária de Gio Ponti vivia como jornalista até colocar os pés no País, na companhia do marido, o colecionador Pietro Maria Bardi, a convite de Assis Chateaubriand para criar um museu que revolucionaria o cenário das artes. O casal tinha duas urgências na chegada: erguer o museu e uma casa para viver. Assim, nasceram o Museu de Arte Moderna de São Paulo, o Masp, e a Casa de Vidro, projetos que hoje circulam o mundo como dois exemplos expoentes da arquitetura moderna brasileira. Com o pretexto do centenário do nascimento da arquiteta, exposições com postais brasileiros como o Sesc Pompeia e o Teatro Oficina, ambos em São Paulo, e o Museu de Arte Moderna da Bahia viajarão pela Europa, outras abrem no País e uma retrospectiva deverá ocupar o Museu de Arte Moderna de Nova York (MoMA) no ano que vem. Enquanto o mundo celebra a ousadia de Lina Bo Bardi, o Brasil poderá testemunhar uma transformação sem precedentes no Masp, seu trabalho mais reconhecido: a construção de um edifício anexo, projeto patrocinado pela Vivo por R$ 12 milhões e vetado em seguida pelo Conselho Municipal de Preservação do Patrimônio Histórico, Cultural e Ambiental (Conpresp) em 2005, diante dos protestos na alteração da proposta original de Lina Bo Bardi.

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“É preciso adequar o Masp à realidade dos anos 2000 e isso também vale para o edifício”, disse à ISTOÉ Heitor Martins, sócio da McKinsey & Company e ex-presidente da Bienal de São Paulo. Indicado para assumir a presidência da instituição pelo banco Itaú, que assumiu este ano as dívidas de cerca de R$ 10 milhões do museu, o executivo deixou claro que não fala ainda pelo Masp, mas confirma que a adequação do edifício é uma das missões da gestão, que deve começar oficialmente no início de setembro.

“O Masp foi projetado nos anos 1950, para as necessidades da cidade nos anos 1950 e para um público dos anos 1950”, avalia ele. “A realidade hoje é completamente diferente e as alterações para colocar o museu em sintonia com seu tempo serão prioridade. E a ampliação do edifício, sem dúvida, é uma necessidade.” Se a nova gestão do museu correr com as suas metas, as imagens do Masp que circulam pelo mundo serão cartões-postais desatualizados da cidade de São Paulo.

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Fotos: Juan Esteves/Folhapress, Eduardo Knapp/Folhapress;Vagner Campos/Futura Press;Gabo Morales/Folhapress; FELIPE RAU/ESTADÃO CONTEÚDO/AE