Desde a crise de 2008, Estados Unidos e China, as duas maiores economias do planeta, alternaram momentos de baixo crescimento com picos de euforia que se revelaram passageiros. Em alguns períodos, houve até retração, como no desempenho do PIB americano no primeiro trimestre de 2014. A novidade é que, pela primeira vez em seis anos, os dois países apresentaram resultados consistentes – ao mesmo tempo. Na quarta-feira 30, o Departamento de Comércio americano anunciou que a economia do País avançou 4% no segundo trimestre, acima da estimativa de 3%. Melhor que isso: foi a terceira maior alta desde o início de 2011. A performance se deve, em boa medida, ao aumento de 2,5% nos gastos dos consumidores, responsáveis por mais de dois terços da atividade econômica. Também na semana passada foram apresentados novos dados sobre o PIB da China. No segundo trimestre, o país cresceu 7,5%, índice acima do índice dos seis últimos trimestres. O mais significativo é que a indústria chinesa voltou a fazer muito dinheiro. De janeiro a junho de 2014, o lucro das maiores empresas do país acelerou quase 18%.

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EM ALTA
Obama e Jinping: o presidente americano comemora alta do
PIB acima das estimativas e o chinês vê seu país acelerar

O fôlego renovado das duas maiores forças econômicas mundiais é importante por diversas razões. Responsáveis por mais de 20% do fluxo do comércio mundial, Estados Unidos e China impulsionam, quando estão bem, os negócios em diversos países. Com o PIB em alta, as empresas investem mais, os consumidores se dispõem a gastar e o mercado esbanja confiança, num ciclo que traz incontáveis benefícios. Para o Brasil, a retomada dos dois gigantes globais representa também uma oportunidade valiosa, especialmente num momento de baixa da economia brasileira (para citar um único exemplo, o superávit primário do País no primeiro semestre foi o pior dos últimos 14 anos). Segundo especialistas, o crescimento da economia dos Estados Unidos pode provocar um impacto imediato, que consiste na alta das exportações brasileiras, sobretudo de commodities. Mas há um aspecto que preocupa também. “Os investimentos em papel americano vão se tornar mais atraentes”, diz Claudio Roberto Frischtak, presidente da consultoria InterB. “Isso é ruim para o Brasil, que deixou de ser a bola da vez.”

Maior parceiro comercial do Brasil em 2013, a China tem demonstrado interesse em ampliar suas relações com o País – estratégia que deve ser reforçada num momento em que a economia avança em ritmo maior. As autoridades chinesas já estão imbuídas dessa ideia. A recente visita do presidente Xi Jinping ao Brasil resultou na assinatura de 56 documentos de cooperação. Enquanto a exportação de carne bovina brasileira pode chegar a US$ 1 bilhão em 2015, a China indica que reforçará sua participação na construção da infraestrutura do País, especialmente no setor ferroviário. “O Brasil possui muitas áreas onde a capacidade da produção industrial doméstica não vem se aprimorando por várias razões, incluindo falta de investimentos em infraestrutura e impostos elevados”, disse à ISTOÉ Binu Pillai, executivo da Meorient, empresa que trouxe, em 2014, duas feiras de negócios que reuniram empresas chinesas interessadas no mercado brasileiro. “Nós estamos tentando preencher as lacunas em setores em que o Brasil não é competitivo.” Detalhe interessante: Pillai acredita que, em 2015, o número de expositores chineses nas duas feiras crescerá pelo menos 50%.

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Do ponto de vista político, a recuperação econômica dos Estados Unidos e da China abranda os danos causados por dificuldades recentes enfrentadas pelos presidentes dos dois países. Barac­k Obama fracassou nas tratativas de paz entre israelenses e palestinos e Xi Jinping está às voltas com denúncias de corrupção envolvendo assessores próximos. Em situações delicadas como essas, que podem surtir efeitos negativos nos índices de popularidade dos presidentes, os indicadores econômicos são a melhor resposta que Obama e Jinping poderiam dar.

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Foto: Pete Souza


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