IstoE_ReporterGoPro_640.jpg
Confira como foi o voo

Se voasse dentro de um avião de acrobacias, a maioria das pessoas sentiria uma sensação desconfortável por causa da força G que atua sobre o corpo durante loopings, parafusos e outras manobras feitas por essas aeronaves. A adrenalina e a sensação de liberdade, porém, são indescritíveis e compensam um eventual incômodo, como conferiu a reportagem da ISTOÉ durante um voo de 20 minutos numa das máquinas que participam da corrida aérea Red Bull Air Race, em Gdynia, cidade litorânea da Polônia. Os ases que escolheram passar a vida competindo nos céus, entretanto, aprenderam a controlar tanto o mal-estar quanto a excitação para percorrer circuitos aéreos como o de Gdynia no menor tempo possível. O melhor deles é o inglês Paul Bonhomme, duas vezes campeão mundial e piloto com mais vitórias na história do evento – 16, o dobro do segundo lugar. Para conquistar esses números, o aviador contou com a ajuda do engenheiro brasileiro Paulo Iscold, que ganhou ao seu lado o título da última temporada do Air Race. “Muito desse campeonato foi decidido graças ao Paulo. Eu poderia ter a melhor aeronave do mundo, mas isso de nada adiantaria se eu não soubesse como usá-la”, diz o britânico.

abre.jpg

01.jpg

Especialista em projetos aeronáuticos, Iscold atua na competição como engenheiro de corrida da equipe de Bonhomme. Até o começo deste ano, o time era o único a contar com uma figura como ele no hangar, mas, desde a segunda prova da temporada, outros três pilotos também adotaram a novidade. O trabalho do brasileiro está baseado em dois pontos principais. O primeiro é a análise do circuito. Iscold e seus alunos da Universidade Federal de Minas Gerais, onde ele dá aulas, recebem o trajeto da corrida e determinam qual é o melhor traçado. Avaliam a telemetria do monomotor e observam onde o piloto está errando em relação ao percurso ideal. A segunda atribuição diz respeito à aerodinâmica. O engenheiro é um dos responsáveis por mudar características, como o formato das pontas de asas, o tamanho da cabine e o capô do motor, para melhorar a performance do aparelho.

Nascido e criado em Belo Horizonte (MG), Iscold tem 38 anos, é casado e pai de um menino de 6. Piloto nas horas vagas, entrou no Red Bull Air Race de forma inusitada. Em 2004, enviou um e-mail para um sul-africano que estava construindo um avião semelhante ao que ele desenvolvia na faculdade. O destinatário era o aviador Glen Dell, que só respondeu à mensagem quatro anos depois, convidando-o a participar da competição. Depois da saída de Dell, passou pela equipe de Adilson Kindlemann (que também já não corre mais) até se unir a Bonhomme, em 2010. Iscold não ganha dinheiro para estar no Air Race. “Não posso, pois sou funcionário da universidade”, diz.

02.jpg

Na última prova, em Gdynia, diante de um público de 130 mil pessoas, Bonhomme cometeu um erro ao passar acima de um dos pilões e sofreu uma penalidade de dois segundos, ficando fora da final, em quinto lugar. Com o resultado, ele está na segunda colocação no campeonato, com 13 pontos a menos que o líder. O vencedor de uma etapa leva 12 pontos – neste ano, há oito corridas. Uma máxima adotada pelo engenheiro brasileiro, porém, cabe bem à situação. “No Brasil, crescemos escutando que precisamos aprender a perder, mas essa é a maior burrice. O que a gente precisa é aprender a ganhar, mas perder faz parte.”

Fotos: Sebastian Marko; Jörg Mitter/Red Bull Content Pool