Desde o início do ano, o mercado financeiro emite sinais contrários à reeleição da presidenta Dilma Rousseff. Já virou um lugar-comum. Toda vez que pesquisas de intenção de voto mostram a queda da popularidade de Dilma e a ascensão dos candidatos de oposição, a Bolsa de Valores reage com alta. O otimismo com a eventual alternância de poder se apoia na esperança de que o próximo governo resgate os pilares econômicos abandonados após a crise internacional de 2008. A grande maioria dos analistas defende este como único caminho para a retomada do equilíbrio fiscal e do crescimento econômico. Também aponta a oposição como a mais capacitada para debelar os fantasmas da inflação – hoje em 7% – e do desemprego. Mas o PT parece disposto a calar quem elabora análises condizentes com essa realidade. A tentativa de patrulhamento evidenciou-se na semana passada, quando o banco Santander, por meio de uma analista, alertou seus clientes com rendimentos acima de R$ 10 mil que os indicadores piorariam se aumentassem as chances de Dilma ser reeleita. Num informe de rendimentos enviado a 40 mil clientes, o banco alegou dificuldade em prever até quando vai durar o cenário de “quebra de confiança” e “pessimismo constante” que assola os mercados. E relacionava a eventual estabilização ou o crescimento da candidata a um cenário de “deterioração” da economia.

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Em qualquer democracia do mundo, um episódio como esse passaria batido. Além de serem instituições destinadas ao depósito de dinheiro, os bancos cumprem o papel de consultores de investimentos. Por isso, é mais do que legítima a avaliação feita por uma instituição privada aos seus clientes. No PT, no entanto, o alerta do Santander, repetindo o que o alemão Deutsche Bank já havia feito em maio, soou como ataque eleitoral. “É inadmissível aceitar qualquer nível de interferência de qualquer integrante do sistema financeiro na atividade eleitoral e política”, afirmou Dilma. Ao ataque de Dilma, seguiu-se uma contundente declaração de Lula, pedindo publicamente a cabeça da analista do Santander responsável pelo texto. “Essa moça não entende p… nenhuma de Brasil e de governo Dilma Rousseff. Pode mandar embora”, afirmou o ex-presidente. O PT ainda estimulou a militância a cancelar suas contas na instituição e, numa clara retaliação movida por interesses partidários, suspendeu o contrato de gestão da folha de pagamento da Prefeitura de Osasco. Temendo perder a parceria com os governos petistas em Santo André, Cubatão e São José dos Campos, o banco foi forçado a recuar. Pediu desculpas publicamente e demitiu a funcionária. Presidente mundial do Santander, o espanhol Emilio Botín disse que o documento não expressava a opinião da instituição, mas da analista, e foi distribuído sem consulta prévia à direção do banco. “O presidente Lula é muito meu amigo”, afirmou Botín, tentando pôr panos quentes na polêmica.

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Além de criar um precedente perigoso, o patrulhamento feito a uma instituição privada que depende de autorização do Banco Central para funcionar e do aval do próprio presidente da República para se estabelecer no País deve abalar ainda mais a confiança dos investidores, segundo o economista-chefe da TOV Corretora, Pedro Paulo Silveira Vale. Durante a semana, o PT ainda recorreu ao TSE para proibir a divulgação de anúncios da consultoria Empiricus, que viralizaram nas redes sociais ao propor soluções a uma iminente crise econômica pós-eleição. Sócio da Empiricus, Felipe Miranda classificou a atitude como “absurda”. “Esse governo é incapaz de receber críticas”, disse.

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Fotos: Itaci Batista/Estadão Conteúdo; Dominique Faget