Muito pequena para seus 13 anos, a menina Lilith, pela singularidade genética, torna-se objeto de obsessão de um médico estrangeiro que se instala na cidade argentina de sua família, no final da Segunda Guerra Mundial. Josef Mengele de fato se escondeu naquele país com nome falso e lá continuou a praticar medicina. Mas, “O Médico Alemão”, livro de Lucía Puenzo que chega ao Brasil depois do filme com o argumento acima (também dirigido por dela), não é um documentário. Imbuída do desafio de refazer os pensamentos de um fugitivo de guerra que entrou para a história como o Anjo da Morte – piloto dos mais brutais experimentos científicos realizados em seres humanos de que se tem notícia –, a autora argentina desenvolve um thriller que é uma carta aberta de protesto ao seu país. Sabia-se – muitas autoridades sabiam – da presença de fugitivos de guerra no país sul-americano.

MENGELE-01-IE-2331.j.jpg
INCÓGNITO
O médico nazista Josef Mengele, que se escondeu na Argentina e depois
no Brasil, onde terminou a vida afogado em Bertioga, litoral paulista

O pai de Lilith, um fabricante de brinquedos obcecado em desenvolver um produto perfeito, não se incomoda com a perturbadora proximidade do doutor estrangeiro com sua filha. “Wakolda”, título original da novela, é o nome da boneca preferida da pequena Lilith. Para se aproximar da vítima, com a anuência de sua família, o dr. José, como fica conhecido, transforma Wakolda na boneca perfeita desejada pelo pai. Metáfora explícita do ideal nazista de aperfeiçoamento da raça, mostra quão pernicioso e letal o silêncio pode se tornar.

IEpag81a83Nazismo_Mengele-3.jpg