O escritor brasileiro mais traduzido e vendido no mundo quase chorou ao assistir à cópia finalizada da cinebiografia “Não Pare na Pista – A Melhor História de Paulo Coelho”, escrita por Carolina Kotscho. Com estreia prevista para 14 de agosto, o filme toca em uma das passagens mais difíceis da trajetória do autor: a internação à força pelo pai, que acreditava que o jovem fosse esquizofrênico e paranoico.

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METAMORFOSE
Ravel Andrade é um dos atores que interpretam Coelho

O filme revela a trajetória do autor antes do estrondoso sucesso internacional. Trajetória essa pautada por inúmeros tormentos mentais, por drásticos conflitos familiares e pelo misticismo de uma personagem obstinada na realização de um sonho levado a cabo: ser um escritor de sucesso.

“Não Pare na Pista” retrata o escritor em idades diferentes. Primeiro, o adolescente filho de classe média conservadora do Rio de Janeiro que, após tentar o suicídio, é internado numa clínica psiquiátrica pelos pais. Depois, o delinquente que foge do hospital psiquiátrico, onde é internado pela segunda vez pela família, e vai morar com o avô, descobrindo a liberdade e mergulhando no universo do sexo e das drogas.

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"CRIEI O MEU PAULO COELHO"
Carolina Kotscho, que assina o roteiro da cinebiografia, teve carta
branca para vasculhar a vida do escritor, com uma exigência:
que não lesse a biografia de Fernando Morais

Mais tarde o jovem doidão, que, por meio da revista de ufologia “2001”, que editava sozinho, conhece o roqueiro Raul Seixas, faz pacto com o diabo e é torturado pela ditadura. Ainda, o homem de 40 anos, peregrino do caminho de Santiago de Compostela que ouve vozes de mentores desencarnados e escreve seu primeiro best-seller, “O Diário de um Mago”. Por fim, o autor rico e consagrado, aos 66 anos, que, dois anos depois de se submeter à cirurgia coronariana, resolve (aqui num toque de ficção) refazer o caminho de Santiago de Compostela.
 Da mesma forma que Fernando Morais, Carolina teve carta branca para vasculhar o passado de Coelho. Com uma ressalva do escritor: que desenvolvesse seu trabalho paralelamente ao do jornalista.

O pedido foi seguido à risca. “Não li a biografia de Fernando Morais. Construí a minha versão da história do personagem a partir das dezenas de entrevistas e da relação que estabelecemos nesses anos de trabalho”, diz Carolina.

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VIVA A SOCIEDADE ALTERNATIVA
Com o parceiro musical Raul Seixas, Paulo fundou a Sociedade Alternativa,
baseada nas ideias do ocultista britânico Aleister Crowley (1875-1947)

 A roteirista acompanhou Paulo Coelho em suas viagens pelo mundo por sete anos. “Foram oito países visitados. Estávamos sempre em trânsito, indo para alguma feira ou evento em sua homenagem”, lembra. Com uma exceção. Graças a uma nevasca que a impediu de embarcar de volta para o Brasil, a roteirista foi pela primeira e única vez convidada a se hospedar no apartamento do casal Paulo Coelho e Cristina Oiticica, em Genebra, na Suíça. “Foram quatro dias incríveis, que me renderam as melhores entrevistas. Pude, finalmente, conhecê-lo na intimidade.”

 Roteiro pronto, hora de escolher o diretor. Paulo Coelho queria que o filme fosse dirigido pelo americano Clint Eastwood; Carolina convidou um cineasta brasileiro e iniciante em longa-metragem de ficção, Daniel Augusto, 41 anos. O gaúcho Júlio Andrade (que viveu Gonzaguinha na cinebiografia “Gonzaga – De Pai pra Filho”) e seu irmão, Ravel Andrade, se revezam no papel do escritor. Enrique Díaz interpreta o pai, Pedro Coelho, e o baiano Lucci Ferreira, seu parceiro musical Raul Seixas.

Filme finalizado, a equipe correu para apresentá-lo a Paulo Coelho, que, diferentemente da reação que teve diante da biografia de Fernando Morais, da qual não gostou, “ficou com um nó na garganta em vários momentos” ao ver sua história dessa vez retratada de forma romanceada por Carolina Kotscho.

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Fotos: Zanone Fraissat/Folhapress; Divulgação