O cenário que envolve a queda do voo MH17 na quinta-feira 17 da Malaysia Airlines na Ucrânia tornou-se desfavorável aos rebeldes separatistas da autoproclamada República Popular de Donetsk (RPD). As investigações levam a crer, cada vez mais, que os rebeldes são os responsáveis pelo provável disparo do míssil terra-ar que levou à morte 298 passageiros que estavam a bordo, contando com uma pequena ajuda da Rússia, que teria fornecido os armamentos necessários.

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Peritos revelaram que os separatistas manipularam as evidências,
movendo corpos e cortando pedaços dos destroços

Analistas militares independentes disseram, ao longo da semana, que o tamanho, a disposição, a forma e o número de estilhaços visíveis em um pedaço da fuselagem do avião indicam o uso de um sistema de mísseis como o SA-11, provável arma utilizada para derrubar a aeronave. Konrad Muzyka, analista do Centro de Análises sobre Defesa IHS Jane, disse que o número de buracos visto nos pedaços da aeronave significa que apenas mísseis com poder de fragmentação como o SA-11 poderiam ter sido usados. “Ele tem uma ogiva de 70 quilos que explode e manda estilhaços para fora”, explicou. O fato de os buracos serem voltados para dentro confirma que a explosão aconteceu do lado de fora do avião.

Os separatistas pró-Rússia, num primeiro momento, negaram que teriam em mãos o míssil originário do sistema Buk, criado pela antiga União Soviética e que, de acordo com os EUA, teria sido a arma que abateu a aeronave. Mas, na quarta-feira 23, o líder separatista Alexander Khodakovsky reconheceu que os rebeldes possuíam o armamento. “A questão é esta: a Ucrânia recebeu provas oportunas de que os voluntários tinham essa tecnologia, por culpa da Rússia. Kiev não só não fez nada para se proteger como provocou o uso desse tipo de arma contra um avião que voava com civis inocentes”, afirmou Khodakovsky.

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Os insurgentes, que tinham total controle dos corpos das vítimas e das caixas-pretas, também relutaram em entregá-los aos investigadores, o que só ocorreu na quarta-feira 23, quando os dispositivos foram levados à Malásia e posteriormente à Grã-Bretanha para serem analisados por especialistas britânicos da Air Accidents Investigation Branch. As caixas-pretas, de acordo com os especialistas, foram danificadas, mas o módulo de memória crítica estava intacto e os dados de um dos diapositivos – de gravação das conversas na cabine – já foram recuperados. A outra caixa-preta, assim que os dados forem recuperados, deverá revelar a hora do acidente, altitude e posição exatos da aeronave. Os investigadores reclamam, no entanto, que os separatistas ainda estão dificultando o acesso das autoridades internacionais ao local dos destroços. Peritos ainda afirmam que os separatistas manipularam as evidências, movendo corpos e cortando pedaços dos destroços. Apenas 200 corpos foram entregues às autoridades. Para piorar, na quarta-feira 23, os rebeldes derrubaram dois caças militares ucranianos que voavam a 17.000 pés, o que levantou ainda mais suspeitas sobre seu envolvimento no ataque ao avião da Malaysia Airlines. Em meio à crise ucraniana, o primeiro-ministro do país, Arseni Yatseniuk, renunciou na quinta-feira 24, após cinco meses no cargo. O chefe de governo perdeu o apoio de dois partidos, o que retirou sua maioria no Parlamento. No lugar de Yatseniuk, assume o atual vice-primeiro-ministro da Ucrânia, Vladmir Groisman.

Foto: AFP PHOTO/ BULENT KILIC