Dunga tem em seu currículo 77,9% de aproveitamento nos 68 jogos em que esteve no comando da Seleção, entre 2006 e 2010. Amparada nesse retrospecto, a CBF deu, na terça-feira 22, nova chance ao treinador gaúcho. Após o País protagonizar o maior fracasso da história do futebol mundial – nunca uma seleção anfitriã havia tomado uma goleada de 7 a 1 numa Copa, como o Brasil –, a estratégia da cartolagem foi promover uma troca súbita da comissão técnica e desviar o foco da modernização da estrutura do futebol brasileiro. Nesse sentido, alçar ao cargo Dunga, um tipo linha-dura, polêmico e com índices de rejeição na casa dos 80%, teria sido a saída perfeita para manter as discussões restritas à escolha do novo técnico.

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SEGREDO
Dunga nunca admitiu, mas documentos mostram que
ele já lucrou vendendo jogadores para o Exterior

Afinal, Dunga não simboliza uma renovação, fato que ficou ainda mais claro depois que a emissora de tevê ESPN revelou, na quinta-feira 24, que o treinador já atuou como agenciador. Documentos provam que, em 2004, ele recebeu comissão de R$ 407.384,08 pela transferência do jogador brasileiro Éderson, que hoje está na italiana Lazio. Ou seja, além do coordenador de Seleções Gilmar Rinaldi, o treinador da Seleção, que assumiu o posto reforçando seu estilo pautado pela transparência, também já lucrou com transferências de atletas. Em sua apresentação na CBF, Dunga não discorreu sobre isso, porque, claro, supunha que o assunto pudesse ficar escondido. E deixou claro que o seu negócio, agora, é a Seleção e a Copa de 2018, na Rússia.

Nada foi falado também sobre o fato de o Brasil, País de dimensões continentais, não formar uma quantidade maior de jogadores excepcionais – aqui, hoje, nascem bons atletas como ocorre em outros países menores. A desejada reformulação no futebol tem sido costurada pelo Bom Senso F.C. e por políticos. Na segunda-feira 21, a presidenta Dilma Rousseff recebeu representantes do movimento no Palácio do Planalto. Depois de ouvir dirigentes de clubes, a intenção é modernizar a gestão do futebol por meio da Lei de Responsabilidade Fiscal do Esporte, que tramita na Câmara. O ministro do Esporte, Aldo Rebelo, não se conforma com o fato de, em um País pentacampeão mundial, o futebol ter peso pequeno na economia brasileira. A média de público no Brasil, sétima maior economia mundial, é menor do que em nações com pouca tradição no futebol, como China e Estados Unidos.

O governo quer que os clubes apresentem balanços rotineiros, sejam rebaixados se não pagarem seus atletas e que as federações possam promover apenas uma reeleição após um mandato de quatro anos. A presidenta se comprometeu a ajudar o Bom Senso a democratizar a estrutura do esporte, fazendo com que treinadores, atletas e árbitros participem de eleições de entidades ligadas ao futebol. Como a CBF se mostra mais preocupada em cuidar da Seleção, é importante mesmo que alguém zele pelo futebol brasileiro.

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