Nesse momento pré-eleitoral, o chefe da Casa Civil, Aloizio Mercadante, talvez seja o ministro mais entusiasmado com a reeleição da presidenta Dilma Rousseff. A todos os interlocutores, tem dito que Dilma será eleita para um novo mandato. “E a eleição não será das mais difíceis”, completa. Os quase 13 minutos da presidenta no horário eleitoral gratuito, diz ele, serão insuficientes para o governo exibir todas as suas realizações. “E governo que tem muito a mostrar não perde eleição”, aposta. Questionado sobre a alta rejeição de Dilma e a dificuldade na montagem de palanques robustos pelo País, ele não titubeia. “Participei de todas as coordenações de campanha desde 1989. Com essa experiência, reafirmo: Dilma não perde a eleição”, encerra.

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O SUPER-MINISTRO
Com Mercadante na Casa Civil, Dilma reprisa o modelo adotado na época
em que Antonio Palocci ocupava a pasta: com um ministro avançando
sobre todas as áreas administrativas e com carta branca para
fechar acordos políticos em nome da chefe de Estado

O ar de confiança traduz o poder e o prestígio conquistados por Mercadante desde quando o petista foi guindado à Casa Civil em janeiro deste ano. Um episódio, ocorrido na última semana, é capaz de ilustrar com precisão a sua influência no governo Dilma. Na terça-feira 22, Dilma reuniu na residência oficial do Palácio da Alvorada presidentes de partidos aliados para discutir estratégias para as eleições presidenciais deste ano. O encontro só foi iniciado após a chegada de Mercadante, que, antes de se dirigir à reunião, precisou cancelar um compromisso com o presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB).

Quando substituiu Gleisi Hoffmann, o Palácio do Planalto esperava dar à Casa Civil uma cara mais política, no lugar do perfil administrativo que a pasta ganhou durante a gestão da senadora do Paraná. Mas o novo ministro não se contentou com a função de chefe da articulação política e decidiu chamar para si responsabilidades administrativas. Com Mercadante na Casa Civil, Dilma repete o modelo adotado na época em que Antonio Palocci ocupava a pasta: com um ministro avançando sobre todas as áreas administrativas e com carta branca para fechar acordos políticos em nome da chefe de Estado. O mais curioso, afirmam petistas, é que o ministro caiu nas graças da presidenta justamente por uma mania considerada irritante pelos subordinados das pastas que comandou antes de ir para a Casa Civil. Mercadante gosta de saber tudo em detalhes que poderiam ficar restritos aos técnicos, um grande ponto de afinidade com Dilma.

Assim, em poucos meses passou a dominar os meandros da organização da Copa do Mundo e trouxe para seu gabinete o assunto, que antes ficava restrito a grupos de trabalho do Ministério do Esporte. Foi tão ativo nos temas da competição que recebeu mais tapinhas nas costas do que o ministro Aldo Rebelo quando a Copa acabou e foi considerada um sucesso. Mercadante gostou disso e decidiu abraçar, também, os preparativos para os Jogos Olímpicos de 2016. Ele não é ministro do Esporte, mas se reúne regularmente com o Comitê Olímpico.

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Aldo Rebelo não foi o único a dividir o poder e os louros com Mercadante. À medida que seu poder cresceu na Esplanada, ele foi encarregado de elaborar um plano para melhorar a execução orçamentária do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) e do Minha Casa Minha Vida, vitrine do PT nas eleições deste ano. A atuação rendeu um importante canal de articulação com governadores. E, apesar de não ser considerado um dos políticos mais afáveis, os governantes regionais encontraram em Mercadante uma ponte que há muito tempo procuravam ter com o Planalto. Pequenas gentilezas, telefonemas de agradecimento por empenhos de verbas ou mesmo alguns minutos na agenda para ouvir queixas não fizeram milagres na formação de alianças eleitorais, mas ajudaram a distender um clima de animosidade política que em nada contribuiria para a candidata Dilma Rousseff.

A habilidade administrativa de Mercadante já era conhecida por seus colegas. Nos últimos três anos comandou o Ministério da Ciência e Tecnologia, a Educação e agora a Casa Civil, sem tropeçar nos diferentes temas abrangidos pelas pastas. O que tem surpreendido positivamente a cúpula petista é a arrumação que ele conseguiu promover entre a Casa Civil, a Secretaria de Relações Institucionais e as lideranças do PT na Câmara e no Senado. Como ele tem acesso direto à presidenta, consegue municiar os colegas do Congresso para agirem com timing e reduzirem ou anularem as ofensivas da oposição e as rebeliões da base. O poder que dispõe no governo também ajuda quando aliados batem à porta pedindo verbas públicas. A sensação de acesso às decisões parece ter dado mais confiança política a Mercadante. Em 2009, ele foi desacreditado por colegas pela falta de aptidão como líder. Deixou, abruptamente, a liderança do PT no Senado crivado de críticas por sua gestão e irritado com as constantes intervenções no partido. A máquina governamental está longe de funcionar com o destravamento necessário às negociações políticas, mas o trabalho de Mercadante à frente da Casa Civil aliviou um pouco a presidenta. A sempre centralizadora Dilma confiou atribuições administrativas ao “super-ministro” e com isso ganhou algum tempo para fazer política, que é o que interessa agora.

Foto:Adriano Machado/AG. ISTOÉ