Mesmo com os filhos adultos, sem um companheiro ou um trabalho, as mulheres reagem mais rápido à viuvez e à aposentadoria. Elas vão à luta, em busca da felicidade, com muita determinação. Os homens, por sua vez, geralmente ficam apáticos, quase perdidos. Não raro, depois de deixar o trabalho, eles se sentem inúteis, perdem horas em frente à tevê ou jogando dominó. A geriatra Anita Néri, da Universidade de Campinas (Unicamp) acredita que os homens passam a vida como provedores do lar e não se preparam para a aposentadoria. Não cultivaram hobbies, esportes ou outro tipo de atividade. As mulheres, ao contrário, são menos acomodadas. “Vários estudos indicam que elas vivem mais do que os homens justamente por esse motivo”, diz Anita. “O importante é não perder o ânimo, investir na saúde, no futuro, acreditar que o melhor ainda está por vir. Eis um dos grandes segredos da longevidade”, ensina ela.

A experiência da empresária Florinilda dos Santos, a Flor, 52 anos, endossa a teoria de Anita. Proprietária da Flor da Idade, agência e escola de modelos para a terceira idade, ela afirma que, ao se aposentarem, os homens ficam mais desanimados. “Eles se entregam fácil à tristeza. Por isso, não só no meu grupo, mas em muitos outros, as mulheres são maioria”, conta Flor. “Muitas mulheres são reprimidas pelo marido ou mesmo pelo pai durante décadas e, quando chegam aqui, soltam a franga!”, brinca ela. Elas não se intimidam com a idade. Dançam, arranjam algum trabalho, procuram amigos. Prova disso é que muitas dessas mulheres desistem de esperar o marido e saem para se divertir sozinhas. Um bom exemplo é o da dona-de-casa Beti Curi, 73 anos. Há alguns meses, ela ganhou o concurso de Miss Simpatia em um baile realizado no Centro Cultural de Santo Amaro, em São Paulo. Com altíssimo astral, Beti faz shows vestida de palhaço em festas infantis e espetáculos em clubes. “Meu marido morre de rir comigo, mas só sai da frente da televisão para andar de bicicleta. Esses homens são muito desanimados”, brinca.

Outra mulher que nunca perde a piada – e o ânimo – é a atriz Nair Belo, 68 anos. Além de abraçar a sua quarentona personagem Santinha, do programa Zorra total na Rede Globo, participa da nova novela das 7, Uga Uga. Mais ainda: estuda um texto de teatro para estrelar ao lado de Lolita Rodrigues, 67 anos, e Hebe Camargo, 70 – as três amigas desde a adolescência. “Sem dúvida vai ser uma comédia”, explica a atriz. “Só não sei quem vai pagar para nos ver cair na gargalhada. A gente ri até em velório!”, brinca.

Coragem – Algumas mulheres, muitas vezes, resistem em assumir uma profissão. Optam primeiro pela casa e pelos filhos. Mas, quando surge uma oportunidade, enfrentam corajosamente o novo desafio. É o caso de Marilene Barbosa, 61 anos, mulher do autor de novelas Benedito Ruy Barbosa, 67. Ela arregaçou as mangas, largou o avental e foi atrás de um sonho antigo: tornar-se atriz. “Durante 42 anos criei meus quatro filhos, fui motorista, secretária, office-boy, enfim, cuidava da casa, marido e ainda netos”, conta ela. Agora, Marilene brilha no palco do Teatro Imprensa, em São Paulo, na peça Socorro, mamãe foi embora, de autoria do próprio Ruy Barbosa. “Escrevi essa peça como um pedido de desculpa para ela”, revela o pai da novela Terra nostra. “É uma mistura de ficção com realidade.” Há oito anos Marilene foi fazer produções de peças teatrais e a casa virou uma bagunça. Sem a administração da mulher, até Ruy soltou cheques sem fundo. “De uma certa maneira, esqueci dela e só percebi meu erro quando a casa ficou sem a sua direção. Por egoísmo, não acreditava em seu potencial como atriz”, confessa ele.

A expectativa de vida mudou muito. Há 20 anos, quem tinha 80 anos era um velho. Hoje a visão e a postura mudaram. O geriatra Clineu Almada, 39 anos, professor da Universidade Federal de São Paulo também acredita que a prevenção é o melhor remédio: “Quanto mais cedo a pessoa cuidar da saúde, melhor.” Para ele, um dos fatores dessa guinada foi a mudança de hábitos. Muita gente aceitou parar de beber, de fumar, cuidar da alimentação e praticar exercícios físicos. “Depois dos 35 anos, a manutenção deve ser rigorosa. Prevenir doenças é o grande caminho para uma velhice saudável e feliz. Até a libido melhora”, diz Almada.

Sexualidade também deixou de ser tabu para essas mulheres. Elas vivem o desejo sexual com toda a sua plenitude – como Nair Cardoso, 85 anos. Viúva há 12 anos de um “marido muito fogoso”, Nair já está em sua terceira paixão. Todos os namorados são homens mais jovens, por volta dos 60 anos. “Os mais velhos não estão com nada. Não dançam e vivem tristes.” Os namoros de Nair acabam sempre pelo mesmo motivo: “Eles querem casar. Mas casamento nem pensar!” Dança, teatro, modelo de publicidade. Vale tudo e o mercado para os maduros está crescendo cada vez mais. Daí o sucesso da campanha da cerveja Kaiser, exibida recentemente, que mostrava quatro velhinhas num bar tomando uma gelada e cantando rock. “A idéia foi feliz demais e fez a gente abrir o olho para um mercado pouco explorado”, afirma Cecília Novaes, 40 anos, diretora de planejamento da agência FNazca. A mesma surpresa sentiu o publicitário Luiz Lara, presidente da Lew, Lara Comunicações. O cliente Banco Real resolveu fazer um concurso de artes para os maiores de 60 anos e o resultado foi um estouro. “Tivemos mais de sete mil inscritos”, afirma Lara. “O prêmio foi um divisor de águas. Existe um mercado incrível para os madurões e só agora o Brasil começa a acordar para esse nicho.”

Computador – Um nicho descoberto quase sem querer por Fernando Saldanha, 31 anos, dono da escola de computador Site 1. Das 14 turmas, nove são ocupadas pelo pessoal acima dos 60 anos. “Todos querem se reciclar, estar plugado no mundo pela Internet”, confirma. A aluna Maria Júlia Lopes, 80 anos, pretende escrever um livro de culinária apenas com receitas de nomes estranhos e conta com a ajuda da informática. “A minha pesquisa não acaba nunca!”, surpreende-se. “O computador é uma ótima ferramenta. Se antes já não tinha medo da velhice, agora acho uma beleza! Até fisicamente me sinto bem e nem fiz plástica.”

No fundo, fazer o possível e o impossível para ser feliz é o desejo de todo o ser humano, em qualquer idade. O essencial é não perder o entusiasmo e a determinação de viver em alto-astral. A estudante de teatro Luiza Kiyomura Abe, 68 anos, fez uma promessa: não morrer sem participar de um programa de televisão. “Eu ainda vou ser atriz de novela! Tenho certeza disso!” Com tanta certeza, ela é mesmo capaz de realizar seu sonho.