O malandro está de volta, com seu icônico chapéu-panamá, o mesmo terno de linho branco que os sambistas e boêmios usavam no passado e os impecáveis sapatos bicolor. Essas são algumas das marcas do espetáculo “Ópera do Malandro”, um clássico de Chico Buarque montado em 1978, mantidas na remontagem que tem pré-estreia de luxo no Theatro Municipal do Rio de Janeiro, nos dias 17 e 18, e entra em cartaz no mês que vem, no Teatro Net Rio. Há novidades no revival. Por exemplo, só homens formam o elenco principal. Os papéis que foram de Marieta Severo (Teresinha) e de Elba Ramalho (Lúcia) são, agora, defendidos por Fábio Enriquez e Léo Bahia, respectivamente. A peça, que faz parte das comemorações dos 70 anos de Chico Buarque, contará também com outras músicas dele, e não somente as da primeira versão.

abre.jpg
MUDANÇA
No musical, os papéis femininos, como Lúcia e Teresinha de Jesus,
são interpretados por homens

O diretor João Falcão explica que resolveu adicionar algumas canções do compositor concebidas depois da “Ópera” porque elas completam o sentido da peça, como músicas do álbum “Malandro” (1985) e outras escritas especialmente para o filme homônimo de Ruy Guerra, também de 1985. “Chico nos deu muita liberdade para trabalhar”, conta o diretor.

“As canções da ‘Ópera’ chegaram ao público mais por conta das releituras que foram feitas por outros artistas do que pela peça. Encená-la é dar uma chance de colocá-las de novo dentro do contexto”, acredita Rubens Lima Jr., diretor teatral e professor de interpretação da Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro (Unirio). Ele se refere a clássicos deste musical, como “Folhetim”, “Teresinha”, “Geni e o Zepelim”, entre outras.

MALANDRO-02-IE-2329.jpg
DO MAL
Ricca Barros faz Duran, dono de bordéis
e desafeto do malandro Max Overseas

Marco na dramaturgia nacional, a “Ópera do Malandro” é baseada em duas obras: a “Ópera do Mendigo” (1728), do inglês John Gay (1685-1732), e a “Ópera dos Três Vinténs” (1928), dos alemães Bertolt Brecht (1898-1956) e Kurt Weill (1900-1950). “É uma peça que ainda tem muito o que dizer e ensinar para o público”, pontua Lima Jr. “Não fizemos nenhuma atualização radical no texto porque ele, em si, trata de temas que ainda são muito atuais”, acrescenta Falcão. Uma, porém, chamará a atenção: no segundo ato, há uma manifestação que vai crescendo e envolvendo todos os segmentos da sociedade, em clara alusão aos movimentos de rua ocorridos em junho do ano passado. “Não é preciso atualizar o texto, vamos apenas tornar a encenação mais contemporânea”, conta o diretor, que planeja levar o clássico de Chico Buarque para outras cidades.

Assine nossa newsletter:

Inscreva-se nas nossas newsletters e receba as principais notícias do dia em seu e-mail

A história do contrabandista malandro e romântico protagonizada por Max Over­seas (Moyseis Marques) se passa na década de 1940, na Lapa, bairro carioca que era um reduto de bordéis, agiotas, policiais corruptos, empresários inescrupulosos, entre outros tipos transgressores. O malandro se apaixona por Teresinha de Jesus, filha de Duran (Ricca Barros), poderoso dono de bordéis e desafeto do anti-herói. “Estou gostando tanto de atuar e desse personagem que já estão me chamando de Moyseis Max”, brinca o cantor, que estreia como ator. O espetáculo é um desfile de insinuantes prostitutas, um travesti (a Geni, interpretada por Eduardo Rios) e mulheres fortes, como Teresinha e Lúcia, responsáveis por um ponto alto do espetáculo, o dueto na canção “O Meu Amor”. “Queremos fazer mulheres com personalidade e estamos trabalhando para que a nossa briga não fique caricata no palco”, diz Bahia. “Estou vivendo um desafio duplo: cantar Chico Buarque como se fosse uma mulher”, afirma Enriquez. Curiosamente, a única atriz em cena, Larissa Luz, interpreta um homem, o João Alegre, narrador do musical.

IEpag92e93Malandro-2.jpg

 


Siga a IstoÉ no Google News e receba alertas sobre as principais notícias