As histórias de fantasia e ficção científica estão recheadas de exemplos em que a capacidade de passar despercebido é muito útil. Da capa de invisibilidade do bruxo Harry Potter ao porta-aviões camuflado de “Os Vingadores”, tudo parece ficar mais fácil quando enganar o inimigo é uma mera questão de ser visto ou não. No mundo real, a ciência ainda não consegue atingir nada tão impressionante, mas já é capaz de tornar indetectáveis alguns objetos, não apenas escondendo-os dos olhos, mas também deixando-os imperceptíveis ao toque ou fazendo-os imunes às ondas sonoras e ao calor.

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A mais recente descoberta nesse campo vem do Instituto de Tecnologia de Karlsruhe, na Alemanha. Lá, os pesquisadores desenvolveram um metamaterial – denominação genérica para um material criado artificialmente com propriedades não encontradas na natureza – que torna imperceptível ao tato qualquer coisa colocada sob ele. “É como a história da princesa e da ervilha”, explica Tiemo Bückmann, um dos autores da pesquisa, citando o conto de Hans-Christian Andersen. “Só que, com nosso material, apenas um colchão seria suficiente para a princesa dormir bem, sem jamais sentir a ervilha por baixo.” O segredo está na forma como esse material cristalino é construído. Ele é feito de milhares de pequenos cones cujas pontas se tocam. Esses pontos de contato são ajustados para enganar os sentidos, de forma que qualquer objeto escondido se torne imperceptível não apenas às mãos humanas, mas também a instrumentos de medição de força. Entre as possíveis aplicações estão a fabricação de tapetes para ocultar cabos elétricos no chão ou a criação de colchões de acampamento ultrafinos, mas supereficientes (leia quadro).

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CAMUFLADO
Experimento japonês usa câmera e projetores para esconder
pessoa na paisagem: limitações na vida real

Recentemente, cientistas da Universidade Duke, nos Estados Unidos, também desenvolveram uma pirâmide “imune” a ondas sonoras. Feita de um metamaterial composto apenas por plástico e ar, ela foi cuidadosamente projetada para guiar o som por uma série de pequenos buracos na superfície. Segundo o professor Steven Cummer, autor do projeto, um localizador acústico é incapaz de detectar tanto a pirâmide quanto o objeto escondido sob ela. É como se ali houvesse apenas uma superfície plana. O princípio é similar ao utilizado por cientistas franceses para “esconder” objetos e torná-los imunes ao calor. No experimento, pesquisadores do Instituto Fresnel usaram camadas de material especialmente projetado para dissipar e desviar a energia.

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COLCHÃO PERFEITO
Metamaterial desenvolvido na Alemanha torna indetectável
pelo toque qualquer objeto colocado sob ele

Mas e quanto à invisibilidade da ficção científica? Ela já existe, mas em escala tão pequena que, ironicamente, é difícil de enxergar. Em março deste ano, pesquisadores da Universidade da Califórnia Central usaram nanotecnologia para criar um retângulo de 4 cm² feito de diversas camadas de um composto de metal projetado para “dobrar” a luz que as atinge. Na prática, isso significa que ele se torna invisível ao olho humano. É um grande avanço sobre experiências anteriores, que funcionaram apenas em escala microscópica, e sobre os mantos de camuflagem baseados em câmeras e projetores, criados por cientistas japoneses. Eles ficam ótimos na tela da tevê, mas têm pouca utilidade na vida real. Mais ou menos como a capa do Harry Potter.

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ACÚSTICA
O som atravessa esta espécie de pirâmide como se não houvesse nada ali:
pura engenharia de materiais, sem componentes eletrônicos

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