Com inflação e nível de endividamento elevados, os brasileiros estão colocando menos dinheiro na poupança. Segundo dados do Banco Central, divulgados na segunda-feira 7, a captação líquida dos depósitos na poupança no primeiro semestre de 2014 foi a menor dos últimos três anos e perdeu somente para 2011, quando o saldo no período foi de R$ 3 bilhões negativos. Em relação ao mesmo período do ano passado, a queda foi de 66%. De janeiro a junho de 2014, o saldo da poupança foi de apenas R$ 9,61 bilhões, enquanto no mesmo período de 2013 ele foi de R$ 28,7 bilhões.

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Os baixos resultados no primeiro semestre podem ser atribuídos à diminuição do ganho dos trabalhadores diante da desaceleração da renda, ao grau de endividamento de parte expressiva da população, principalmente da chamada classe C, e à alta da inflação, que ultrapassou a meta do governo e, de acordo com o último relatório do Banco Central, deve ficar em 6,4% em 2014. A alta dos preços – sobretudo da alimentação – diminuiu o poder aquisitivo e de consumo da população. Pesquisa do instituto Kantar Worldpanel, que monitora o consumo de cerca de 80 itens usados diariamente e visita 11,3 mil domicílios brasileiros semanalmente, constatou que no primeiro trimestre do ano, em relação ao mesmo período do ano passado, as famílias cortaram em duas vezes a ida a pontos de venda de produtos de uso diário, como alimentos, bebidas e itens de higiene e limpeza. “Quando a pessoa tem menos dinheiro para consumir, ela tem também menos para poupar”, lembra Paulo Feldmann, professor de economia brasileira da USP. “Depois de muitos anos, a classe C está enfrentando problemas financeiros”, diz o especialista.

A queda dos investimentos na caderneta de poupança também é atribuída por economistas aos consecutivos aumentos que a taxa Selic vem sofrendo desde 2013. Em abril deste ano, quando a taxa de juros subiu para 11%, a caderneta apresentou o saldo de R$ 1,27 bilhão negativo – o mais baixo desde 2011. A ligação entre os dois é direta, tendo em vista que a alta da Selic faz com que a caderneta se torne menos vantajosa que os fundos de renda fixa como CDBs ou títulos do Tesouro Direto, que apresentam maior rentabilidade. Segundo especialistas, essa é uma situação que se arrasta desde 2011 e já era esperada pelo mercado. Pessoas, por exemplo, que compraram o carro em 72 meses ainda estão pagando as prestações, lembram. “A queda dos recursos da poupança só não é maior porque os brasileiros, principalmente os mais velhos e as classes C e D, culturalmente ainda veem a caderneta como o investimento mais seguro, o que não é verdade”, afirma André Sacconato, diretor de pesquisa da consultoria Brasil Investimentos & Negócios (BRAiN).

Economistas avaliam, no entanto, que, independentemente do rendimento, a caderneta de poupança ainda é uma boa opção de investimento para pequenos poupadores, para pessoas que procuram aplicações de curto prazo ou que buscam formar um “fundo de reserva” para emergências – uma vez que não há incidência de Imposto de Renda. Nos fundos de investimento ou até mesmo no Tesouro Direto (programa do governo de compra de títulos públicos pela internet), há cobrança do IR. Também na maioria dos investimentos são cobradas taxas de administração, o que não ocorre na poupança.

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De todo o modo, não foram apenas os depósitos em poupança que caíram. A Associação Brasileira das Entidades dos Mercados Financeiro e de Capitais (Anbima) aponta que os fundos de investimento captaram apenas R$ 2 bilhões no primeiro semestre de 2014, o que representou o pior resultado desde 2002. Além disso, dados da Cetip apontam que os recursos de títulos de renda fixa CDBs diminuíram 9% nos últimos 12 meses. Em junho de 2014, o saldo foi de R$ 9 bilhões, enquanto em junho de 2014 ele caiu para R$ 5 bilhões.

O baixo volume de recursos nos bancos pode ser ruim para o aquecimento da economia. Com menos dinheiro em estoque, os bancos dificultam o acesso da população ao crédito. “Taxa Selic alta e saldo baixo em poupança a médio e longo prazo podem impactar na disponibilidade do crédito imobiliário e agrícola”, afirma Sacconato. Mesmo assim, o diretor- executivo de clientes e estratégia de varejo da Caixa, Edilo Ricardo Valadares, faz previsões otimistas para o ano. “A expectativa é que no segundo semestre haja uma captação de mais de R$ 12 bilhões.”

Foto: SERGIO NEVES/AE


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