Uma forma mais eficiente de avaliar a constituição corporal começa a revelar que alguns indivíduos com peso normal segundo o Índice de Massa Corporal (IMC) – usado para classificar peso normal, sobrepeso e obesidade – podem, na verdade, ter mais gordura escondida no interior do organismo do que os exames existentes conseguiam descobrir até agora. O novo teste, que está sendo chamado de densitometria de corpo total, já está disponível em países como Espanha, Grécia, Estados Unidos e também no Brasil.

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MUDANÇAS
Liat tinha mais gordura do que devia e reformulou seu
programa de exercícios e a dieta

Feito em até 20 minutos pelo densitômetro, mesmo aparelho usado para avaliar o risco de osteoporose (doença que leva ao enfraquecimento ósseo), o exame usa um software diferente. “Por meio da emissão de uma radiação muito baixa, mostra a presença de músculos e de gordura a cada meio centímetro do corpo”, descreve a endocrinologista Patrícia Dreyer, do Laboratório Fleury Medicina e Saúde, um dos centros que oferecem a avaliação no País. Hospitais de primeira linha também já o fazem.

Há mais opções para estimar a quantidade de gordura e músculos, como a bioimpedância (uma corrente elétrica de baixa intensidade que percorre os tecidos), a adipometria (medida das pregas cutâneas feita com uma pinça) e a medida da cintura abdominal. Em todos os casos, a informação obtida ajuda a estimar os riscos para a saúde de quem apresenta concentração de gordura acima ou abaixo do recomendado. “Porém, estudos mostram que os dados da densitometria de corpo inteiro não variam conforme a temperatura ambiente, se a mulher está no ciclo menstrual e com retenção de líquido, se comeu antes ou bebeu muito líquido. Tudo isso pode afetar o resultado dos outros meios de mensuração”, diz a endocrinologista Maria Fernanda Barca, de São Paulo.

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RETRATO
O teste emite radiação muito baixa e mostra a presença de músculos e
de gordura a cada meio centímetro do corpo

A médica começou a pedir o exame após ter assistido à apresentação de trabalhos em congressos internacionais. Um deles, feito na Espanha, mostrou que apenas um terço das pessoas com níveis elevados de gordura abdominal do tipo não aparente era tratado adequadamente. “Ao revelar a gordura mesclada aos músculos e escondida no abdome, por exemplo, esse teste permite identificar pacientes que, apesar de magros, podem ter maior risco de se tornarem diabéticos ou de ter síndrome metabólica”, explica Maria Fernanda. A síndrome a que se refere a médica é caracterizada pela presença dos fatores de risco para as doenças cardiovasculares, como a hipertensão e a diabetes tipo 2.“Pessoas com mais gordura na cintura apresentam maior risco para doenças do coração e morte precoce”, diz a americana Mary Oates, do Marian Regional Medical Center, na Califórnia (EUA). Ela é uma das principais pesquisadoras da nova densitometria.

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O exame também aponta obesos que possuem menos gordura do que se afere somente pela medida do IMC (calculado por meio de uma conta que considera o peso dividido pela altura ao quadrado). Seriam, portanto, mais saudáveis do que se imagina. “É um teste que precisa se tornar mais conhecido pelos benefícios que pode trazer”, diz a endocrinologista Patrícia Dreyer. “Mas ainda é necessário avançar em algumas definições. Os endocrinologistas se perguntam a partir de quais valores se pode diagnosticar síndrome metabólica. Isso ainda não está definido internacionalmente e por isso não inserimos essa conclusão no laudo”, pondera a médica. Outra boa aplicação do exame é indicar se há perda de massa muscular, um processo que avança com a idade. Mostra também fraturas ósseas que antes não eram visíveis com a densitometria tradicional.

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A precisão da nova densitometria surpreendeu a engenheira Liat Rubin, 29 anos, de São Paulo. Adepta dos exercícios de musculação, da corrida e da alimentação saudável, ela descobriu que, apesar do Índice de Massa Corporal normal e do corpo esguio, a quantidade de gordura escondida no organismo estava acima do aceitável para o seu caso. “O laudo da densitometria informou 27% de gordura na composição corporal. Uma avaliação anterior, feita com o adipômetro, havia indicado 19%!”, conta Liat. O dado foi usado para reformular o programa de treinamento e a dieta, com o objetivo de eliminar mais gordura. “Mantive a musculação para não perder massa magra, aumentei a atividade aeróbica para queimar mais gordura e passei a comer a cada três horas para acelerar o metabolismo”, conta Liat, que perdeu seis quilos. “Junto foi uma barriguinha que teimava em não desaparecer”, diz.

Fotos: Kelsen Fernandes; Science Photo Library 


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