A controvérsia sobre os alimentos transgênicos – geneticamente modificados – ganhou fôlego na semana passada, com a denúncia da presença de ingredientes do gênero (soja e milho) na composição de 11 produtos nacionais e importados disponíveis nos supermercados. Testes feitos com 42 alimentos a pedido do Instituto de Defesa do Consumidor (Idec) e do Greenpeace provaram que o brasileiro ingere alimentos transgênicos sem ter conhecimento. O governo, no entanto, manteve a permissão para que os alimentos fiquem nas prateleiras por julgar que a falta de distinção nos rótulos não é motivo para suspender as vendas. Soa estranho, já que o próprio governo brasileiro assinou em fevereiro, com outros 130 países, um protocolo no qual concorda com a rotulagem dos produtos geneticamente modificados. E além do mais, no Brasil o cultivo e a comercialização de alimentos transgênicos estão proibidos por decisão judicial enquanto não for estabelecida legislação específica. As sementes só entram no País para plantio experimental, com autorização especial.
Com a denúncia, as entidades esperam que o consumidor tome partido. “A população precisa estar informada e ter maior poder de pressão sobre as indústrias. Deve influir nos processos de decisão sobre os transgênicos”, explica o coordenador do Greenpeace, Roberto Kishinami.

O resultado dos testes colocou mais lenha numa fogueira que arde no País. Serviu de combustível, por exemplo, para a concessão de uma liminar, na terça-feira 20, impedindo o desembarque, em Recife, de 38 mil toneladas de milho importadas da Argentina por avicultores até que se comprove a inexistência de grãos geneticamente modificados no lote. Meses antes, os gaúchos devolveram aos americanos 27,5 mil toneladas de milho supostamente transgênico. Há mais de um ano, o governo do Rio Grande do Sul intensificou o controle sobre as compras no Exterior feitas pelas indústrias locais para alimentar aves e suínos e evitar que os animais recebam rações de grãos modificados. “O governo está brincando com uma questão séria. Não libera o cultivo, mas não fiscaliza as importações. Precisamos evitar que os produtos brasileiros, como a carne de frango, fiquem sob suspeita no mercado internacional”, critica José Hermeto Hoffmann, secretário da Agricultura do Rio Grande do Sul. Como a Europa fechou as portas para transgênicos, Hoffmann acredita que é a chance de o Brasil se diferenciar no mercado mundial como produtor de soja não transgênica. “Será uma burrice econômica não aproveitar esse momento”, observa.

Existem muitas discussões em relação aos efeitos dos alimentos transgênicos na saúde e no ambiente. Cientistas, médicos e geneticistas divulgam, por exemplo, que há possíveis riscos de aumento de alergias na população mundial. Nos Estados Unidos, há registros de pacientes alérgicos que manifestaram crises da doença depois de terem ingerido soja modificada. Mas também há muitas pesquisas mostrando que os alimentos não causam danos ao organismo. Mesmo que a conclusão final demore, porém, o consumidor tem o direito garantido de saber o que está comprando. Além do Idec, os Procons estaduais e municipais já aprovaram moção considerando precipitada a liberação dos transgênicos e pedem a rotulagem. É o mínimo que se pode fazer para garantir o direito de escolha do consumidor.

Os teste mostraram a presença de soja ou milho transgênicos nos alimentos. Há outros na relação: Nestogeno com soja, salsicha Swift (tipo Viena), Cereal Shake Diet, Bac’os, Prosobee (fórmula não láctea), Soy Milk e biscoito McCormick