Nos salões do mítico número 30, da avenida Montagne, em Paris, o estilista Christian Dior deu início a uma revolução na manhã do dia 12 de fevereiro de 1947. Naquela data, quando fez seu primeiro desfile, já com 42 anos, ele apresentou à imprensa sua coleção na qual se destacavam as silhuetas, até então inéditas, com cintura marcada e busto sexy. Coube a uma editora de moda presente cunhar a expressão “new look”, que ganharia o mundo a partir de uma pitoresca sequência de eventos. Reza a lenda que um jornalista de uma agência de notícias ouviu o termo, escreveu-o em um bilhete, atirou-o pela janela a um mensageiro e, no mesmo dia, o vocábulo chegou aos Estados Unidos, onde causou grande impacto. Dior começava ali a escrever um novo capítulo da moda.

As únicas fotos existentes desse desfile foram feitas pela americana Pat English. Começava ali também uma parceria fundamental para propagar o sucesso do artista.

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MARCO
O tailleur Bar criado por Dior (abaixo),
imortalizado na foto de Willy Maywald

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A relação entre o estilista e os fotógrafos está documentada no recém-lançado livro “Dior, The Legendary Images”, que acompanha uma exposição homônima no Museu Dior, na França, com curadoria de Florence Muller. Foram selecionadas cerca de 200 imagens feitas entre 1947 e 2014 – 60 manequins vestidos com criações do mestre estão dispostos no local. Os bastidores do primeiro desfile e relatos dos dez anos em que Dior comandou sua maison são objeto de outro livro. “Monsieur Dior: Once Upon a Time”, da prestigiada jornalista de moda Natasha Fraser-Cavassoni, chegará às livrarias no segundo semestre. Para contar detalhes dessa época de ouro, ela entrevistou dezenas de pessoas que conviveram diretamente com o estilista, de ajudantes a vendedoras, e teve acesso a arquivos inéditos da Dior.

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NA MODA
Acima, foto icônica de Richard Avedon e, abaixo, os
dois livros que retratam o universo da Dior

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A revolução empreendida pelo estilista com o “new look” no pós-guerra deixa para trás os dias de racionamento, dos uniformes, das restrições. Dior constrói suas criações como um arquiteto. “Queria vestidos moldados sobre as curvas do corpo feminino”, disse o estilista. “Eu apontava o tamanho, o volume dos quadris, valorizava o busto. Para assentar melhor os meus modelos, dupliquei praticamente todos os meus tecidos com percal e tafetá.” O mergulho da autora nesse universo ganha imagens à altura, com fotos de ícones como Cecil Beaton, Henri Cartier-Bresson e Willy Maywald. As imagens lendárias que contam a história da maison, aliás, realçam o diálogo estabelecido entre moda e fotografia. Grandes fotógrafos como Richard Avedon, Horst P. Horst e Clifford Coffin criaram os parâmetros visuais da Dior – o enquadramento, a luz, a encenação, a atitude da modelo – e influenciam até hoje a atual geração de fotógrafos do mundo fashion.

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CRIAÇÕES
Vestido Mozart, de 1950, em foto de Norman Parkinson à esq.
e vestido Turquie, de 1951, em retrato de Cecil Beaton

Fotos: Divulgação