A economia brasileira tem sofrido com juros altos, pressão inflacionária, restrição ao crédito e desconfiança de investidores. O mercado de trabalho, no entanto, permanece há anos quase como um oásis em meio a ondas de pessimismo. Na semana passada, essa percepção foi abalada pelos dados de maio divulgados pelo Ministério do Trabalho e acendeu um alerta para o governo. Segundo o Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged), o saldo de criação de vagas formais no mês passado foi de 58,8 mil, o pior para o mês desde 1992, início da série histórica. O fraco desempenho foi puxado pelo setor de serviços, que criou mais da metade dos novos postos de trabalho – muitos deles impulsionados pela Copa do Mundo –, e negativamente influenciado pela indústria de transformação, que cortou 28.533 vagas com carteira assinada e registrou demissões líquidas em 11 de seus 12 subsetores. Desde abril, a indústria demite mais do que contrata.

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A indústria de transformação cortou 28.533 vagas com carteira
assinada. Desde abril, mais demite do que contrata

Os números do Caged são preocupantes, porque refletem uma desaceleração no ritmo da atividade econômica do País, começando pela produção industrial. “Os anos de ouro da geração de emprego no Brasil acabaram e essa fase dificilmente será reproduzida,” diz Julio Gomes de Almeida, ex-secretário de Política Econômica do Ministério da Fazenda e professor de economia da Universidade Estadual de Campinas. De acordo com Almeida, entre 2005 e 2011 o processo de distribuição de renda favoreceu o emprego nas camadas de qualificação e remuneração mais baixas. Ao mesmo tempo, o aumento dos rendimentos das famílias aliado a um mercado de trabalho aquecido nesse período permitiu que muitas pessoas deixassem de procurar emprego para estudar por mais tempo ou esperar por novas oportunidades. “A tendência agora é ganhar eficiência e produtividade, o que requer mais investimentos na formação de mão de obra,” afirma o economista. Por isso, também, a desaceleração na criação de empregos não deverá ter um impacto tão direto no nível de desemprego da população.

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Na quinta-feira 26, o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) divulgou apenas a taxa de desemprego de quatro regiões metropolitanas, porque uma greve de funcionários impediu a consolidação dos dados de Salvador e Porto Alegre. Ainda assim, as notícias não foram tão ruins. Se, em Recife e Belo Horizonte, o desemprego de maio sobre abril subiu de 6,3% para 7,2% e de 3,6% para 3,8%, respectivamente, em São Paulo e no Rio de Janeiro a taxa caiu de 5,2% para 5,1% e de 3,5% para 3,4%, nesta ordem. No País como um todo, ainda vale o número da Pnad Contínua, que registrou 7,1% de desemprego no primeiro trimestre – percentual abaixo dos 8% calculados no mesmo período de 2013.

Foto: GERJ