Uma invasão estrangeira está mudando a paisagem de várias cidades brasileiras. Turistas internacionais, especialmente latino-americanos, têm lotado estradas e ruas do País a bordo dos mais variados veículos. São trailers, motorhomes, vans, ônibus, carros customizados e até taxis com placas de fora do Brasil transportando torcedores que aproveitaram a Copa de 2014 para cair na estrada. Apesar das enormes distâncias que separam algumas das cidades-sede do Mundial, turistas de várias nacionalidades estão percorrendo milhares de quilômetros Brasil adentro, em busca de aventuras, belos visuais ou tarifas mais baixas do que as oferecidas pelas companhias aéreas. Mas sempre movidos pela paixão pelo futebol.

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SOBRE RODAS
Argentinos improvisam beliche dentro de van para viajar pelo
Brasil sem perder os lances de Lionel Messi e companhia

Munidos de bandeiras, faixas e muita animação, esse contingente entrou no Brasil pelas cidades de fronteira. De acordo com a Polícia Rodoviária Federal, desde que a Copa começou, aumentou o movimento de automóveis nessas regiões que são porta de entrada para nossos torcedores vizinhos. Por Foz do Iguaçu (PR), mais de três mil chilenos chegaram ao País de uma só vez, em uma caravana que reuniu mais de 800 carros. De lá, foram seguindo os passos da “La Roja”, como é conhecida a seleção chilena, até aportarem em Belo Horizonte, para a partida contra o Brasil nas oitavas de final. Pelo Estado do Rio Grande do Sul, de 22 a 27 de junho, 25 mil argentinos cruzaram a fronteira. Apenas na quarta-feira 25, dia da partida contra a Nigéria, a Prefeitura de Porto Alegre registrou a chegada de 36 mil veículos hermanos. Ruas e avenidas da capital foram tomadas por mais de 120 mil compatriotas de Lionel Messi, que não economizaram na festa após a vitória por 3 x 2.

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MARATONA
Os chilenos Michel Diaz (dirigindo) e Pablo Barrios já percorreram
mais de 9 mil km atrás da seleção do Chile

Para aproveitar a Copa e seguir de perto a seleção do coração, vale tudo. Até vir da Colômbia de bicicleta. Foi o que fizeram 13 torcedores de Barranquilla. Eles andaram 1,4 mil quilômetros de bicicleta e os 8 mil km restantes num ônibus personalizado, com as cores do país de origem e detalhes do Mundial. A turma já contabiliza mais de 30 dias de aventura. No Brasil, pedalam em média cinco horas por dia de bicicleta e depois fazem 500 km de ônibus. O destino é o próximo jogo da sua seleção. Mas nem precisa de tanta organização para cair na estrada. Quatro amigos uruguaios decidiram uma semana antes do Mundial pegar o carro de um deles, sair de Montevidéu e percorrer 5,5 mil quilômetros para acompanhar a Celeste. A base na primeira fase foi Natal, a mesma do time.

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Muitos turistas têm se virado como podem para realizar tarefas diárias básicas, como comer, dormir ou tomar banho. Na caravana de chilenos que atravessa o País, vários levam seus próprios fogões a gás e mantimentos e tomam banho de mangueira. “Pelo menos aqui a água não é tão gelada quanto no Chile”, disse Francisco Cabrera, 34 anos, um dos chilenos que seguiam na carreata e que estava acampado no Sambódromo do Anhembi, em São Paulo, no dia 25 de junho.

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PEDALA
Torcedores vieram da Colômbia de bicicleta, tendo como apoio um ônibus

Já os torcedores da Argentina têm se destacado pela criatividade e pelo “jeitinho argentino” na hora de viajar. Para não gastarem com hospedagem nas cidades por onde passam, um grupo de jovens instalou um beliche dentro da van que dirigem desde Córdoba. Antes, no Rio de Janeiro, hermanos motorizados ocuparam quase todos os espaços de estacionamento da orla de Copacabana, num movimento nunca antes visto. Alguns chegaram a dormir na areia da praia, mas a farra acabou quando a Prefeitura do Rio proibiu a permanência dos veículos no local. Havia trailers em péssimo estado de conservação – e isso não está sendo incomum. Carros muito desgastados, que não passariam pela inspeção veicular nacional, têm circulado pelas estradas e cidades-sede do País. Mesmo assim, a Polícia Rodoviária Federal afirma que ainda não aplicou nenhuma multa em veículos estrangeiros. Na noite da quinta-feira 26, porém, um argentino de 72 anos morreu e outros três ficaram feridos em acidente na BR-290 em Uruguaiana (RS). Foi o primeiro acidente registrado com turistas nas rodovias federais.

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CARONA
Grupo de uruguaios em Natal: improviso para seguir a celeste

A maioria desses torcedores estradeiros tem em comum a paixão pela seleção de seu país e a sede por aventura. Caso dos chilenos Pablo Barrios, 35 anos, e Michel Diaz, 34, que estão na estrada desde o dia 6 de junho. Em 20 dias de viagem, já percorreram mais de nove mil quilômetros e enfrentaram temperaturas que variaram de cinco graus negativos, na região dos Andes, até mais de 35oC, em Cuiabá. Ambos destacam a hospitalidade do povo brasileiro como fator decisivo para que tudo esteja correndo bem. “Não trouxemos mapa ou GPS, então temos que descobrir os caminhos apenas lendo as placas ou perguntando. Mas todo mundo ajuda e até agora deu certo”, afirma Diaz.

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Ilustração: Rica Ramos, fotos: João Castellano/istoe; Mateus Bruxel / Diario Gaucho