O Viagra, a famosa pílula azul contra a impotência sexual, está sendo empregado em mulheres com disfunções sexuais causadas por antidepressivos. Entre os efeitos colaterais de alguns tipos dessas drogas está a diminuição do desejo sexual e a dificuldade para atingir o orgasmo. O psiquiatra José Alberto Del Porto, da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), por exemplo, incorporou o remédio ao arsenal terapêutico. Apoiado por pesquisas internacionais, ele sustenta que a droga tem efeito. “O sildenafil, princípio ativo da droga, tem sido objeto de estudos que atestam sua eficácia no tratamento dessas disfunções em homens e em mulheres”, diz.

Atualmente, apenas uma paciente de Del Porto está sendo tratada com a droga. Ela vem obtendo resultados com a ajuda da pílula. “O sildenafil aumenta o fluxo sanguíneo nos genitais. Ele age sobre o óxido nítrico, substância relacionada à facilitação do orgasmo, graças a uma ação de vasodilatação do clítoris”, explica o médico. Mas a questão é polêmica. “O sildenafil não tem efeito sobre a libido”, contesta o urologista Joaquim Claro, também da Unifesp.

 dano sobre a vida sexual causado por alguns antidepressivos já é conhecido. São diversos remédios que trazem esse risco embutido, caso da fluoxetina (princípio do Prozac) e da sertralina (substância ativa do Zoloft, por exemplo). Por causa disso, especialistas buscam modos de tratar o problema. E o Viagra vem sendo testado para essa finalidade. Uma das pesquisas foi feita pela Clínica de Depressão do Hospital Geral de Massachusetts, nos Estados Unidos. Foram tratados 14 pacientes que sofriam de alguma disfunção sexual. Entre eles, havia cinco mulheres. Todos relataram melhoras. “O resultado parece animador, mas como o grupo é pequeno não dá para o laboratório indicar o Viagra para esse fim”, afirma Valdair Pinto, diretor-médico da Pfizer, fabricante do remédio.

Para a psiquiatra Alexandrina Meleiro, do Hospital das Clínicas de São Paulo, a droga não surte o efeito desejado. “Receitei o Viagra para quatro mulheres. Nenhuma notou diferença”, assegura. Rubens Pitliuk, neuropsiquiatra do Hospital Albert Einstein, é mais incisivo. “Existem métodos mais simples de tratar a disfunção”, acredita. Um deles é diminuir a dosagem do antidepressivo ou usar dois tipos de remédios para combater a depressão. Del Porto concorda com a prudência de Pitliuk. “Faço a indicação do Viagra com reservas. Seu uso pressupõe exame médico prévio”, garante.