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A floresta amazônica deixa de absorver 54 milhões de toneladas de carbono ao ano por causa da ação localizada da indústria madeireira e das queimadas. Isso equivale às emissões de 40 milhões de automóveis no mesmo período. Uma equipe de pesquisadores brasileiros e britânicos chegou a esse resultado após quatro anos de estudos em áreas afetadas na região. O resultado surpreendeu os cientistas, já que o montante equivale a 40% da perda anual de carbono causada pelo “desmatamento tradicional”, quando áreas inteiras são derrubadas.

Regiões desmatadas significam menos captura de carbono da atmosfera. Não é por acaso que, como medida de compensação ambiental, empresas plantam árvores para neutralizar suas emissões. A preocupação dos pesquisadores é que o volume perdido tenha sido seriamente subestimado até hoje. São consideradas degradadas florestas atingidas por incêndio acidental, quando o pequeno agricultor põe fogo em uma área de pasto ou cultivo e ele atinge as árvores, ou aquelas que sofrem com a extração de madeiras nobres, como mogno e ipê. A floresta não chega a ser totalmente derrubada, mas a interferência da ação humana mostrou ter impacto considerável.

Esse é o maior estudo já realizado em áreas degradadas para calcular os impactos desses distúrbios no armazenamento de carbono na floresta. Foram 225 pontos estudados na região leste da Amazônia, englobando áreas em Santarém e Paragominas, no Pará. Nelas, mais de 70 mil árvores, 5 mil amostras de galhos e 5 mil de solo foram analisadas por um grupo de 11 pesquisadores de 10 instituições, entre elas a Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) e o Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe).

De acordo com a primeira autora da pesquisa, Erika Berenguer, doutoranda na Universidade de Lancaster, na Inglaterra, o trabalho chama a atenção para os efeitos da degradação. “Vemos que as políticas públicas tiveram um efeito bastante positivo na redução do desmatamento no Brasil, então agora é hora de agir para frear também as ações de degradação da floresta”, diz Erika. “O nosso estudo mostra que, apesar da floresta continuar lá em pé, depois do fogo e da extração de madeira, ela é completamente diferente da floresta original, sofrendo uma enorme perda de carbono.”

A pesquisadora afirma que é difícil saber se uma área degradada irá se recuperar totalmente, mas diz que, ao longo do período de análise, notou-se que essas matas sofrem também uma mudança de estrutura. As árvores grandes e de tronco grosso vistas em matas primárias (preservadas) voltam mais finas e com mais cipós quando a área é recuperada. E isso significa menor capacidade de captura de carbono.

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“Áreas de desmatamento são fáceis de localizar com satélites, já que temos o solo exposto, mas a mata degradada não tem um método seguro de monitoramento”, explica Joice Ferreira, segunda autora do estudo e pesquisadora da Embrapa. “Estamos mostrando que esses danos têm impacto nas emissões”, reforça Joice, que diz que, enquanto o desmatamento foi reduzido, as áreas degradadas aumentaram. Estimativas do Inpe apontam que, entre 2007 e 2010, 6 milhões de hectares da Amazônia brasileira foram atingidos.

Segundo Mercedes Bustamante , coordenadora da Sub-rede de Mudança de Uso da Terra e Floresta, da Rede Clima, do Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação – (MCTI), são contabilizadas todos os tipos de alterações que possam ser detectadas por imagens. “Não há dúvidas de que a contabilidade de emissões no setor de florestas e uso da terra precisa ser aprimorada”, diz. “Os esforços têm sido direcionados nesse sentido e o próximo inventário já está incorporando muitos avanços em relação ao inventário anterior.”


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