Foi aos 45 minutos do segundo tempo. Na última fileira do camarote das autoridades, sentada entre o presidente da Fifa, Joseph Blatter, e a filha, Paula, a presidenta Dilma Rousseff se levantou e berrou “gooooool!!!”, sem medo de ser feliz. ISTOÉ entrou no camarote a dez minutos do fim da partida e flagrou sua comemoração com o gol de Oscar.

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Ainda faltavam mais quatro minutos para o juiz levantar o braço. De costas para a parede de vidro que separava a seleta arquibancada de autoridades do interior do espaço vip da Fifa, Dilma beijou e abraçou a filha na hora do gol. Sofrendo com os lances como qualquer torcedor, levou as mãos à cabeça num momento em que o goleiro Júlio César espalmou a bola com o chute de um croata. Nessa hora, a presidenta parecia ter abstraído as vaias e os xingamentos dirigidos a ela no Itaquerão, ocorridos quatro vezes durante a abertura.

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Final de jogo. Ela se levanta da cadeira de couro preta aparentando alívio com a vitória. É abraçada imediatamente pela presidente do Chile, Michelle Bachelett. “Que sufoco”, comenta Dilma, respirando fundo, numa rodinha de autoridades já no interior do camarote. “Agora vai”, brinca ela. Estavam ao seu lado o ministro, do Esporte, Aldo Rebelo e o governador Geraldo Alckmin, que foi beijá-la festivamente. Disputaram quem tinha dado mais sorte no jogo. Dilma usava um terninho verde-bandeira, com detalhe em amarelo na lapela, e uma echarpe de seda verde. Tinha no pescoço um pingente com a bandeira do Brasil e na mão carregava uma segunda echarpe.

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“Presidente pé-quente, hein?”, ouviu do seu cardiologista e amigo, Roberto Kalil, que entrou no camarote juntamente com o empresário José Seripieri Jr., dono da Qualicorp, e a mulher, Daniela Filomeno. Ela foi abraçá-los. Viu primeiro a mulher de seu médico, a endocrinologista Claudia Cozer. “Cadê o Kalil?” Em seguida, chegam para se despedir o secretário-geral da ONU, Ban-Ki-Moon e a primeira-dama de São Paulo, Lu Alckmin. Após afagos do prefeito de São Paulo, Fernando Haddad, Dilma falou à ISTOÉ com exclusividade, enquanto deixava o espaço:

ISTOÉ – Presidenta, a senhora ficou triste com o tratamento que recebeu aqui no estádio?
Dilma –
Que tratamento?, diz, com a cara fechada.

ISTOÉ – A senhora sofreu xingamentos e vaias da torcida.
Dilma –
Ah, querida, isso é da vida… Baixa a cabeça por um segundo e olha para a frente, andando. Ao sair, a presidenta se despede com um sorriso e dois beijinhos. No dia seguinte, Dilma discursou em Brasília: “Não me abaterei por xingamentos que não podem sequer ser escutados pelas famílias”.

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POR DENTRO DO CAMAROTE
No alto, Geraldo e Lu Alckmin. À esq., Marcela Temer
e o médico Roberto Kalil. A presidente do Chile,
Michelle Bachelet, e Marco Aurélio Garcia

Logo atrás de Dilma, o vice-presidente, Michel Temer, e a mulher, Marcela Temer, se confraternizavam com os convidados do espaço interno de mais de 300 metros quadrados. A área mais nobre do Itaquerão foi ambientada com pequenos lounges. Mesinhas redondas próximas ao janelão com vista para o campo. O presidente do STF, Joaquim Barbosa, o presidente do Senado, Renam Calheiros, e o presidente da Bolívia, Evo Morales, deixaram rápido o camarote. O ex-técnico e jogador Carlos Alberto Torres aproveitou para jantar.

O governador Alckmin esperou a comitiva presidencial deixar o local e ficou mais um pouco no camarote. Pediu um cafezinho para ele e dona Lu. Elogiado por convidados na ação de contenção dos manifestantes do dia, se divertia contando: “No fim eram 30 manifestantes tentando fechar a Radial Leste e 60 jornalistas registrando”. Enquanto o governador era parabenizado pela condução da greve dos metroviários, dona Lu provocou risos na rodinha: “É por isso que eu sou apaixonada por ele.” Nenhum comentário sobre as vaias a Dilma. Perguntado por ISTOÉ, o governador descoversou: “Foi um desabafo”. Já eram quase oito da noite quando o espaço, enfim, ficou vazio.

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Fotos: Gisele Vitória