A função de um marca-passo é ajudar corações que passam a bater fora do ritmo ou não bombeiam a quantidade suficiente de sangue para o corpo a funcionar normalmente. Agora, esses aparelhos estão passando pela mais profunda mudança desde que foram criados, em 1958. Na semana passada, um dos mais novos aparelhos desse tipo foi colocado dentro do coração de um paciente no Reino Unido. Trata-se do menor e mais leve marca-passo já fabricado no mundo. “Foi um momento histórico. O dispositivo tem apenas um décimo do tamanho dos modelos tradicionais”, celebrou o cirurgião John Morgan, responsável pelo procedimento realizado no Hospital Geral de Southampton, no Reino Unido. Se a princípio pesavam cerca de 500 gramas, atualmente os aparelhos em uso alcançam entre 10 e 30 gramas. Já o mini marca-passo tem apenas dois gramas.

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VANGUARDA
O cirurgião John Morgan, do Reino Unido,
implantou o menor marca-passo do mundo

O paciente do Reino Unido é o segundo a receber o minidispositivo. A primeira cirurgia ocorreu na Áustria, em dezembro do ano passado. Ambos os procedimentos fazem parte de um estudo que envolverá 780 pessoas para avaliar o modelo desenvolvido pela indústria Medtronic. Uma das principais vantagens do novo artefato é a ausência dos fios que conduzem os sinais elétricos para dentro do coração e também monitoram seu ritmo. Eles são comuns nos modelos convencionais. “Essa transformação poderá eliminar a maioria das complicações relacionadas aos marca-passos, como a ruptura dos fios e infecções”, explica o cirurgião Martino Martinelli, diretor da Unidade de Estimulação Cardíaca do Instituto do Coração (InCor) da Universidade de São Paulo. Por mês, o InCor implanta 100 marca-passos e atende duas mil pessoas para fazer o controle periódico dos aparelhos. Martinelli conta que um modelo similar ao minimarca-passo foi testado há dois anos por cientistas de Harvard, com excelentes resultados.

Os novos dispositivos conseguem chegar ao
interior do coração sem necessidade de cirurgia

Outra vantagem do minimarca-passo é dispensar cirurgias. Ele atinge o coração por meio de um cateter introduzido na virilha (pela veia femoral). Os aparelhos convencionais são implantados por um procedimento que os insere sob a pele, na altura do ombro, e posiciona os fios no interior do órgão.

Ainda em fase experimental, o minimarca-passo tem limitações. Por ora, será útil para 15% das pessoas com alterações nos batimentos do coração porque estimula só uma câmara cardíaca. Em muitos casos, é preciso que o impulso elétrico alcance outras áreas do órgão. Os aparelhos tradicionais conseguem esse efeito com os seus fios. Para suprir essa necessidade, estão em teste aparelhos para estimular ao mesmo tempo o átrio direito e os dois ventrículos.

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Mais avanços estão a caminho. No Hospital Beneficência Portuguesa, em São Paulo, está sendo avaliado um sistema de monitoramento remoto dos marca-passos. Trinta e oito pacientes do SUS e 22 particulares participam do estudo. “Todos possuem um transmissor ao lado da cama que coleta os dados do aparelho durante a noite e envia essas informações para serem analisadas pelo cardiologista”, explica Carlos Eduardo Duarte, especialista na colocação e regulagem dos marca-passos. Os dados são entregues a uma central de computadores ou ao celular do médico. Um dos benefícios é o acompanhamento constante das alterações cardiológicas de cada paciente, o que permite uma regulagem mais fina do aparelho. “Estudos mostram que isso está ajudando a reduzir complicações e a mortalidade”, diz Duarte. O acompanhamento a distância também poupa o usuário de ir ao médico a cada três ou seis meses para avaliação. “Já tenho pacientes que vêm ao consultório só uma vez por ano”, relata o cardiologista.  


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