Há pouca diferença entre bonsais e seres humanos. Por mais estranha que seja, foi a essa conclusão que chegou o dentista Jacinto Emílio Ogama, presidente da Associação Energia Vital de Guarulhos, na Grande São Paulo, após realizar seções de acupuntura em plantas durante oito anos. A milenar medicina chinesa, cada vez mais utilizada por médicos, fisioterapeutas, dentistas e veterinários, age da mesma maneira sobre os vegetais, estimulando seu crescimento e curando suas patologias. “As agulhas são feitas de metal, excelente condutor, e têm a capacidade de concentrar grande quantidade de energia, que pode ser aplicada em qualquer ser vivo”, esclarece Ogama, emprestando termos de física e química para explicar os princípios da acupuntura.
Nas duas salas de seu consultório, entre a cadeira de dentista onde sentam seus pacientes de biocibernética – tratamento de problemas do corpo como bronquite e rinite por meio de aparelhos odontológicos – e os dois divãs onde se deitam as vítimas de suas agulhas, moram uma dúzia de pequenos vasos. Entre uma sessão e outra, Ogama aproveita o tempo cuidando de seus bonsais, miniaturas de pinheiros, macieiras, ipês e até de um pé de romã, verdadeiras cobaias do acupunturista. O ambiente é dos mais inóspitos. Os vasos não recebem ventilação nem luz solar direta, já que as janelas de vidro apontam para o sul e estão invariavelmente cerradas. Ainda assim, seus parapeitos são adornados por plantas vistosas, resultado da experiência. Para mostrar seus efeitos com maior propriedade, o dedicado jardineiro cultiva duas mudas da mesma espécie em um único vaso, estimulando apenas uma com as famosas picadas. A outra quase não se desenvolve e, ocasionalmente, acaba sucumbindo perante a portentosa colega.

Todos podem repetir o processo em seu próprio jardim. Para alívio dos leigos em acupuntura, os vegetais não contam com os 1.130 pontos dos meridianos de energia que compõem o corpo humano. Para os médicos, cada milímetro do corpo ou das orelhas reverte em um resultado diferente, enquanto há apenas duas maneiras de espetar as plantas. “Se aplicarmos a agulha na parte externa dos caules, a árvore crescerá. Picadas nos ângulos internos das ramificações fazem com que ela dê flores e frutos”, instrui Ogama. Ele costuma deixar as agulhas permanentemente espetadas, e as troca todo mês.

As plantas muito novas recebem agulhas menores, usadas na acupuntura facial, e as plantas de maior porte são tratadas com agulhas sistêmicas, utilizadas no resto do corpo. Enquanto os pacientes de carne e osso costumam receber um jogo de 20 setas em cada sessão, uma ou duas são suficientes para o tratamento dos vegetais. Agora, quando as plantas não tiverem um tronco principal, mas apenas caules frágeis como os das violetas, Ogama recomenda que seja dado um estímulo momentâneo, dispensando-se a permanência das pontas de metal por mais de um minuto. “No interior, é comum darem machadadas nos troncos das mangueiras para que os frutos sejam mantidos e as copas fiquem mais vistosas. Outras vezes, percebemos pregos espetados em grandes árvores durante décadas. O princípio é o mesmo da acupuntura que eu faço”, diz Ogama, confessando onde encontrou sua inspiração.


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