Muito se discute sobre as vantagens e desvantagens em sediar a Copa do Mundo. Ainda que se fale dos estádios caríssimos, é inegável que o País se beneficiará de relevantes investimentos em infraestrutura, mobilidade urbana e serviços por causa do Mundial. Alguns legados são de extrema importância para a população – como o BRT Transcarioca, (sigla em inglês para Transporte Rápido por Ônibus), que acaba de ser inaugurado no Rio de Janeiro, unindo o Aeroporto Internacional Galeão/Antonio Carlos Jobim à Barra da Tijuca. Um percurso de 39 quilômetros que demorava três horas para ser percorrido e, agora, consome 1h10 – e por apenas R$ 3. Este era um daqueles projetos engavetados havia décadas e que só viraram realidade por causa da realização do evento esportivo no Brasil. “Era uma obra aguardada há quase 50 anos, uma eterna promessa. Com a Copa conseguimos firmar a parceria com o governo federal, financiar toda a construção e entregá-la antes do Mundial”, disse a ISTOÉ o prefeito do Rio, Eduardo Paes (PMDB).

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RAPIDEZ BRT
Transcarioca, recém-inaugurado no Rio: viagem do Galeão
à Barra que era percorrida em três horas agora leva 1h10

A construção deste BRT foi o único compromisso assumido pela prefeitura carioca com a Fifa, a entidade máxima do futebol. É uma obra de mobilidade fundamental para os jogos que acontecem na cidade, mas, sobretudo, é importante para a população por ser o primeiro transporte de alta capacidade a atender o Aeroporto Internacional, que até então contava apenas com táxis e ônibus comuns. Durante o Mundial, quem chegar à cidade pelo aeroporto para assistir aos jogos poderá utilizar a via expressa para ir ao Maracanã, ao Centro ou à zona Sul utilizando a conexão com o metrô na estação Vicente de Carvalho. Se for estrangeiro, não ficará perdido: as estações Galeão 1 e 2 contam com profissionais com noções de inglês para auxiliar os turistas. Os BRTs, claro, têm bagageiros. Depois da Copa, muita gente vai embarcar e desembarcar nas 47 estações que passam por 27 bairros e se integram com metrô e trens.

O BRT é rápido porque transita em um corredor exclusivo e
o passageiro compra o bilhete antes de entrar na estação

O BRT é mais rápido porque transita em um corredor exclusivo, sem disputar espaço com outros veículos, nem mesmo ônibus. Para somente em semáforos e nas estações. O embarque é semelhante ao de metrô, o passageiro compra o bilhete antes de  ingressar na estação, que é climatizada, tem bancos de espera e telas LED informando quantos minutos faltam para o ônibus chegar. O ônibus tem poltronas confortáveis e serviço de som, que informa a estação e as conexões com trens ou metrô, na voz da locutora mais famosa do País, Íris Lettieri.

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MODERNIZAÇÃO
No Recife, importante porta de entrada para turistas
estrangeiros, o aeroporto foi ampliado e agora pode
receber 16 milhões de passageiros por ano

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Das 167 intervenções previstas inicialmente, 22 foram excluídas,
37 concluídas e o restante está incompleto

As estações estão entrando em funcionamento aos poucos. A expectativa é transportar 320 mil pessoas por dia, sendo que cada ônibus da frota tem capacidade para até 180 passageiros. O sistema, inaugurado no domingo 1º, está sendo aprovado pela população. Dono de uma consultoria na área de suprimentos, o empresário carioca Adeir Gonçalves, 57 anos, conta que gastava R$ 190 de táxi entre a Barra, onde mora, e o Galeão, que fica na Ilha do Governador, toda vez que precisava viajar para Belém, capital do Pará, onde tem um escritório. O bordão “Imagina na Copa!”, para ele, virou algo positivo. “Era o tipo de transporte que faltava à cidade. Além da pontualidade, é confortável e barato”, comemora. A segurança também é uma questão importante: policias militares à paisana estarão dentro dos ônibus para dar proteção aos passageiros durante a Copa. Depois, o policiamento será feito em todo o trajeto de forma ainda não divulgada.

A Transcarioca custou R$ 1,9 bilhão. Foram construídos dez viadutos, nove pontes (duas estaiadas) e três mergulhões, além de terem sido feitas reformas nas casas afetadas pelas obras. Segundo especialistas ouvidos por ISTOÉ, a Copa no Brasil antecipou a realização de uma série de projetos necessários para o desenvolvimento do País, que não teriam saído do papel sem essa alavanca. “Até mesmo porque há uma tensão dentro do próprio governo entre intensificar o investimento público para o desenvolvimento do País e manter o superávit primário relativamente elevado para garantir a estabilidade monetária”, explicou o secretário executivo do Ministério dos Esportes, o cientista político Luis Fernandes. “Infelizmente, fizemos menos do que poderia ser feito, mas se não tivesse a pressão e a motivação da Copa não teríamos nada”, pondera José Roberto Bernasconi, presidente do Sindicato Nacional das Empresas de Arquitetura e Engenharia Consultiva (Sinaenco).

A Copa antecipou a realização de projetos que
não teriam saído do papel sem esse estímulo

 

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Das 167 intervenções previstas na primeira versão da Matriz de Responsabilidade, documento que definia as obras e os responsáveis pela execução e custo delas (União, Estados, Municípios ou iniciativa privada), 22 foram excluídas, 37 foram concluídas e o restante está incompleto, mas será entregue à população em datas variadas, segundo levantamento do Sinaenco. “As obras que não ficarem prontas para a Copa ficarão em agosto, em setembro. E daí? O povo brasileiro vai usufruir para o resto da vida delas”, diz Gilberto Carvalho, ministro da Secretaria Geral da Presidência da República. Dos custos totais, de R$ 25,6 bilhões de acordo com o Ministério dos Esportes, R$ 8 bilhões foram investidos somente em mobilidade urbana que priorizam o transporte coletivo. O País resolveu fazer uma série de obras de infraestrutura, modernização dos aeroportos, portos, telecomunicações e segurança. “Nem todas constavam de recomendação da Fifa. As especificações da entidade eram focadas, basicamente, nas condições dos estádios e instalações temporárias do seu entorno”, esclareceu o secretário Fernandes, do Ministério do Esporte.

As 12 cidades-sede receberam investimentos. Para Cuiabá (MS), por exemplo, foram projetadas 56 para melhorar a infraestrutura urbana da cidade. Dessas, 22 foram concluídas, entre as quais o Viaduto do Despraiado, que permitirá maior fluxo entre pontos extremos da cidade. O restante deverá estar pronto até dezembro. No Recife, importante porta de entrada para turistas estrangeiros, o Aeroporto Internacional dos Guararapes/Gilberto Freyre foi modernizado e agora pode receber 16 milhões de passageiros por ano. Também foram feitas outras obras importantes na cidade, como a Via Mangue, na Zona Sul, considerada a maior intervenção viária das últimas décadas na capital pernambucana, com 4,5 quilômetros de extensão.

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Fotos: Felipe Varanda/Ag. Istoé, Rogerio florentino; Ana Araújo