Em esportes coletivos cultua-se uma folclórica máxima. Ela prega que, na hora do aperto, da decisão, o atleta dono de habilidades infinitamente superiores à média deve ser acionado para resolver uma jogada, um ponto, um título. O futebol, é claro, não foge a essa regra. Na quinta-feira 12, a Seleção Brasileira abre a Copa do Mundo enfrentando a Croácia, em São Paulo, e inicia a sua caminhada rumo ao sonhado hexacampeonato. Escalado por Felipão para vestir a mítica camisa 10 da Seleção, Neymar, aos 22 anos, entra no Mundial com a missão de desequilibrar para o Brasil, de ser o maestro de um bom time ensaiado para fazer o craque brilhar. “Ele vai decidir pra gente”, disse Fred, o centroavante da Seleção, ao final do amistoso contra o Panamá, na terça-feira 3. Na vitória por 4 x 0, Neymar anotou seu 31º gol em 48 partidas pelo Brasil, deu passe de calcanhar para outro gol, chapelou e enfiou a bola no meio das pernas dos adversários e correu bastante durante o jogo.

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Os números de Neymar na Seleção treinada por Felipão não deixam dúvidas de que, se o craque for bem no Mundial, o Brasil tem tudo para também ir bem. Desde que o técnico gaúcho iniciou a sua segunda passagem no comando do Brasil, em 2012, a Seleção marcou 57 gols – não está contabilizado aqui o jogo entre Brasil e Sérvia ocorrido na sexta-feira 6. Desses, o atacante, que é jogador do Barcelona, anotou 14 e deu passe para outros 11. Considerando-se essas duas estatísticas, significa que a participação de Neymar nos gols da equipe é de incríveis 43%. “Neymar tem potencial para ser o craque da Copa, é o artista da Seleção e fica à vontade nesse papel”, afirma Paulo Vinícius Coelho, o PVC, comentarista dos canais ESPN. “Se o Neymar não brilhar, fica mais difícil a caminhada”, diz João Batista da Silva, o Batista, que jogou as copas de 78 e 82.

É verdade que outros fatores podem ajudar o Brasil a ganhar a Copa sem que o time dependa exclusivamente de Neymar. Além de a Seleção poder contar com a torcida empurrando nas arquibancadas, a Copa do Brasil é o primeiro mundial de dimensões continentais em 20 anos (o último foi em 1994, nos Estados Unidos). Os deslocamentos de muitas equipes farão com que os jogadores sofram fisicamente ao se exporem aos climas frio, quente, seco e úmido do País. Dessa forma, é plausível que o desgaste de um adversário favoreça o Brasil apesar de uma possível má fase ou ausência de seu craque. Para não correr riscos, o melhor antídoto contra a neymardependência é uma equipe com ótimos jogadores em suas posições.

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Desde que Felipão assumiu, em 2012, Neymar
marcou ou participou de 43% dos 57 gols da seleção

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Para o ex-jogador Tostão, campeão do mundo em 1970, Neymar se destaca quando o time brasileiro joga bem. “Não acho que o Neymar inspirado vai fazer o time jogar bem. Mas se o coletivo funcionar, ele vai ser o destaque da equipe”, diz. Ter um time encaixado taticamente pode fazer mais diferença do que o brilho solitário de uma estrela. Nunca na história das Copas um time médio levou a taça, mas equipes com alguns jogadores excepcionais e sem um craque já triunfaram, como as duas últimas campeãs, Espanha e Itália. A única exceção foi a Argentina campeã em 1986, um time razoável que venceu por um fator conhecido: Maradona, o Pelé argentino. “Mesmo em 94, em que o Romário foi a estrela e um dos principais responsáveis pela nossa vitória, a Seleção tinha obediência tática muito forte”, diz Maurício Capela, comentarista esportivo da Rede TV e coordenador do blog Dbico. “Neymar é o craque, o diferencial. Mas o coletivo é muito importante”, diz ele.

Como uma outra máxima do esporte aponta para o fato de que o futebol não é uma ciência exata, do mesmo jeito que há campeões mundiais sem um grande craque no time, a presença de um fora de série aumenta muito a possibilidade de triunfo em Copas (leia quadro). “Um craque deixa seus companheiros mais confiantes, abre espaços para eles e preocupa mais os adversários”, diz Tostão. Neymar está a um mês de reforçar essa lista. Tem pela frente, porém, dois fortes candidatos: Messi, quatro vezes eleito o melhor do mundo pela Fifa e o português Cristiano Ronaldo, atual melhor do mundo.

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Fotos: Ivo Gonzalez/Ag. O Globo, Evaristo SA/AFP


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