IstoE_kepler_640.jpg

Saiba quem são os nossos  irmãos no espaço

Um é enorme, rochoso, quente e muito distante. O outro está mais próximo – a “apenas” 13 anos-luz da Terra – e tem a temperatura certa para abrigar água líquida na superfície, condição essencial à vida. Os dois são exoplanetas, termo que define os planetas localizados fora do Sistema Solar, e vão ajudar os cientistas a compreender melhor, ao longo dos próximos anos, como ocorreu a formação de ambientes com potencial para abrigar vida fora da Terra. Nessa busca incessante por indícios de atividade biológica extraterrestre, a descoberta de planetas similares ao nosso é celebrada com entusiasmo pelos astrônomos. “Esta é mais uma evidência de que quase todas as estrelas têm planetas, e de que mundos possivelmente habitáveis em nossa galáxia são tão comuns quanto areia numa praia”, disse Pamela Arriagada, pesquisadora do Instituto Carnegie para a Ciência, uma das instituições responsáveis por encontrar o Kapteyn b, que orbita uma estrela do tipo anã vermelha nos limites da Via Láctea. Esse planeta se juntou, na semana passada, ao Kepler 10-C, apelidado de “megaterra” por ter o dobro do tamanho do nosso planeta e apresentar estrutura rochosa similar.

Esses não são os primeiros planetas parecidos com a Terra encontrados fora do Sistema Solar, mas são especiais por suas próprias razões. O Kapteyn b, além de ser o mais antigo mundo desse tipo – tem 11,5 bilhões de anos, mais do que o dobro da idade do nosso Sistema Solar –, também é o mais próximo de nós. Já o Kepler 10-C, que fica a distantes 560 anos-luz, introduz uma nova categoria de planeta. Após sua descoberta, em 2011, os cientistas acreditavam se tratar de um grande planeta gasoso e inóspito. Novas análises revelaram, no entanto, que ele tem 17 vezes mais massa do que a Terra (confira quadro). O Kepler 10-C é quente demais para sustentar água líquida, mas ajuda a provar que planetas muito maiores que o nosso também podem ter estrutura rochosa, condição que favorece o aparecimento de vida. “Esse é o Godzilla das terras”, comparou o astrônomo de Harvard Dimitar Sasselov, um dos responsáveis pela descoberta. A referência ao iguana gigante da ficção pode parecer exagerada, mas o fato é que, até então, os teóricos acreditavam que mundos desse tamanho teriam que ser necessariamente gasosos, uma vez que a enorme força gravitacional atrairia todo o hidrogênio ao redor para formar um planeta como Netuno ou Júpiter.

01.jpg

As descobertas desses mundos só foram possíveis graças ao telescópio Kepler, da Agência Espacial Americana (Nasa), que operou até o ano passado. Em órbita, ele identificava, com base na variação da luz de estrelas distantes, a existência dos exoplanetas. A expectativa é de que, nos próximos 20 anos, novas espaçonaves do tipo possam analisar em detalhes esses mundos recém-descobertos em busca de sinais de metano, vapor de água e oxigênio, que seriam bons indícios de vida. A corrida começa já em 2017, quando a Nasa deve lançar o satélite Kess, cuja missão será identificar novos planetas rochosos. “E, se você consegue criar rochas, consegue criar vida”, diz Sasselov.