06/06/2014 - 20:50
Um é enorme, rochoso, quente e muito distante. O outro está mais próximo – a “apenas” 13 anos-luz da Terra – e tem a temperatura certa para abrigar água líquida na superfície, condição essencial à vida. Os dois são exoplanetas, termo que define os planetas localizados fora do Sistema Solar, e vão ajudar os cientistas a compreender melhor, ao longo dos próximos anos, como ocorreu a formação de ambientes com potencial para abrigar vida fora da Terra. Nessa busca incessante por indícios de atividade biológica extraterrestre, a descoberta de planetas similares ao nosso é celebrada com entusiasmo pelos astrônomos. “Esta é mais uma evidência de que quase todas as estrelas têm planetas, e de que mundos possivelmente habitáveis em nossa galáxia são tão comuns quanto areia numa praia”, disse Pamela Arriagada, pesquisadora do Instituto Carnegie para a Ciência, uma das instituições responsáveis por encontrar o Kapteyn b, que orbita uma estrela do tipo anã vermelha nos limites da Via Láctea. Esse planeta se juntou, na semana passada, ao Kepler 10-C, apelidado de “megaterra” por ter o dobro do tamanho do nosso planeta e apresentar estrutura rochosa similar.
Esses não são os primeiros planetas parecidos com a Terra encontrados fora do Sistema Solar, mas são especiais por suas próprias razões. O Kapteyn b, além de ser o mais antigo mundo desse tipo – tem 11,5 bilhões de anos, mais do que o dobro da idade do nosso Sistema Solar –, também é o mais próximo de nós. Já o Kepler 10-C, que fica a distantes 560 anos-luz, introduz uma nova categoria de planeta. Após sua descoberta, em 2011, os cientistas acreditavam se tratar de um grande planeta gasoso e inóspito. Novas análises revelaram, no entanto, que ele tem 17 vezes mais massa do que a Terra (confira quadro). O Kepler 10-C é quente demais para sustentar água líquida, mas ajuda a provar que planetas muito maiores que o nosso também podem ter estrutura rochosa, condição que favorece o aparecimento de vida. “Esse é o Godzilla das terras”, comparou o astrônomo de Harvard Dimitar Sasselov, um dos responsáveis pela descoberta. A referência ao iguana gigante da ficção pode parecer exagerada, mas o fato é que, até então, os teóricos acreditavam que mundos desse tamanho teriam que ser necessariamente gasosos, uma vez que a enorme força gravitacional atrairia todo o hidrogênio ao redor para formar um planeta como Netuno ou Júpiter.
As descobertas desses mundos só foram possíveis graças ao telescópio Kepler, da Agência Espacial Americana (Nasa), que operou até o ano passado. Em órbita, ele identificava, com base na variação da luz de estrelas distantes, a existência dos exoplanetas. A expectativa é de que, nos próximos 20 anos, novas espaçonaves do tipo possam analisar em detalhes esses mundos recém-descobertos em busca de sinais de metano, vapor de água e oxigênio, que seriam bons indícios de vida. A corrida começa já em 2017, quando a Nasa deve lançar o satélite Kess, cuja missão será identificar novos planetas rochosos. “E, se você consegue criar rochas, consegue criar vida”, diz Sasselov.