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MANIA A rainha já tinha o hábito de apagar as lâmpadas do Palácio
de Buckingham

Se governantes devem ser um modelo de virtude para os cidadãos, e não basta sê-lo, mas é preciso parecer que são, então a rainha da Inglaterra, Elizabeth II, se alinha entre aqueles a ser imitados. Dando de ombros, soberanamente, àqueles que a apelidaram de “rainha verde”, ela acaba de tomar medidas ecológicas que estão mudando arraigados hábitos (ou esbanjamentos) reais. Pondo um pé na contemporaneidade do mundo, Elizabeth determinou através de seus porta-vozes que o Palácio de Buckingham, em Londres, e todas as residências da família passarão por medidas drásticas tendo em vista a contenção de energia. As mudanças estendem-se à frota de limusines e carros oficiais que serão adaptados ao consumo de combustíveis híbridos, diminuindo assim a emissão de dióxido de carbono. E até no que era impensável ela mexeu – a adega. Mandou desligar o seu ar-condicionado. As nobres bebidas carecem de climatização e refrigeração? Segundo os porta-vozes palacianos, para isso serão feitos buracos nas paredes da adega. Como se vê, a rainha se tornou mesmo carbon free.

Com 19 salas, 52 quartos, 92 escritórios, 78 banheiros e 188 dependências de empregados, o Palácio de Buckingham, residência oficial da rainha, era até agora um verdadeiro monumento à incandescência. São necessárias 40 mil lâmpadas para iluminar todos os corredores e ambientes e corre a história que, mesmo antes de ganhar o apelido de green queen (rainha verde), Elizabeth passava boa parte de seu tempo apagando luzes – por contenção de seu próprio bolso. Com a vigilância das organizações ecológicas e influência de seu filho, o príncipe Charles, que há tempo milita nessa área, ela agora optou por lâmpadas de baixo consumo. Charles tem se preocupado com a emissão de CO2 pelo mundo afora, tanto assim que promove o reflorestamento em regiões de Uganda, introduziu fornos à base de biocombustíveis na Índia e financiou a instalação de lâmpadas de baixo consumo na África do Sul.

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VERDES Elizabeth II (com a limusine Bentley)
seguiu a cartilha ecológica do príncipe Charles

Após as lâmpadas, Elizabeth olhou para as garagens. As duas limusines da marca Bentley e os dois Rolls-Royce continuam classudos e lustrosos, mas os seus motores agora são plebeus: viraram flex, funcionando tanto a gasolina como a gás derivado de petróleo. Essa adaptação também se estendeu ao “táxi particular” usado pelo príncipe consorte Philip, marido da rainha. Já o helicóptero Sikorsky S76C+ ficará mais tempo no hangar – o príncipe Charles, seu maior usuário, até diminuiu as partidas de pólo, justamente para não utilizar tanto a aeronave.

O dispêndio maior de energia se dá justamente nas viagens aéreas e por terra. No ano passado, o total de vôos da realeza aumentou em 677 horas, produto de 380 viagens pelo Reino Unido e 45 ao Exterior. O trem real foi usado 14 vezes, percorrendo um total de 1,6 mil quilômetros. Além do exemplo dos cortes no pólo, esporte que tanto ama, pesa a favor de Charles o fato de que ele já adaptara, por iniciativa própria, os motores de seu Jaguar e de sua Range Rover a biocombustível – e continua incentivando firmemente seus assessores a ir para o trabalho de bicicleta. O seu adorado Aston Martin fica agora a maior parte do tempo parado: o príncipe se autodisciplinou a andar com ele somente 160 quilômetros por ano.

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O príncipe Charles reduziu suas partidas de pólo para poupar o helicóptero Sikorsky S76C+

Com todas essas ações ele já conseguiu neutralizar as emissões de gás carbônico de sua residência, a Clarence House, e pretende comemorar a conquista. “Consumimos os recursos do planeta com tal intensidade que estamos sem crédito”, disse o príncipe. Como ninguém é de ferro, na Semana Santa ele cometeu um deslize, mas foi por questão de saúde: em vez de ir de carro para a residência real de Balmoral, Charles foi de avião porque estava acompanhado pela duquesa da Cornuália e ela precisava de conforto – recupera-se de uma histerectomia.

No ano passado, a emissão de CO2 a partir de três residências de Elizabeth II (Palácio de Buckingham, Castelo de Windsor e Palácio de Holyroodhouse) chegou a 810 toneladas. Some-se isso à emissão das residências de seus funcionários e tem-se 3,7 mil toneladas – a média do país é de 10 toneladas por pessoa. Vem daí a simpatia que a rainha angariou com as suas medidas, entre elas o projeto de implantar uma usina geradora de energia à base de lenha e gás no Palácio de Buckingham.

O Castelo de Windsor já tem a sua própria geradora movida a água e a residência de Balmoral, também. Aliás, quando ficava nela, a princesa Diana passava o tempo se queixando de que sentia muito frio. Diana chegou a criticar publicamente a rainha, dizendo que ela tinha verdadeira obsessão por apagar luzes e manter o aquecimento no grau mínimo. Naquela época, é certo que a família real entrou numa rotina de contenção de despesas porque começou a ver o dinheiro evaporar. Agora a motivação é também outra e se casa aos anseios da maioria dos países: ter e incentivar a consciência ambiental. Para a rainha, tudo isso é um universo novo com o qual ela nunca sonhara – ter de se preocupar com a degradação do meio ambiente. Para Charles, no entanto, essa é uma questão com a qual há tempos ele se ocupa – e, dessa vez, a família real tem muito do que se orgulhar dele. A realeza caiu na real.