China Arte Brasil/ OCA Museu da Cidade, SP/ até 18/5

A mostra “China Arte Brasil” reúne 110 obras de 62 artistas contemporâneos chineses, mas a visão de uma só obra já valeria a visita. Filmado em película 35 mm, “Ye Jiang (The Nightman Cometh)” (2011) é um dos últimos trabalhos de Yang Fudong, um dos mais importantes artistas de sua geração. Com uma obra audiovisual voltada para a história do cinema e da cultura chinesa, Fudong realiza nesse trabalho uma aproximação entre dois tempos da história de seu país. A China medieval é representada por um guerreiro e a China moderna é encenada por três personagens fantasmagóricos, que vestem paletó, gravata e minissaia e usam maquiagem de teatro butô. O cenário é idílico: um campo nevado povoado por animais silvestres.

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CHINA MÍTICA
Frame do filme "The Nightman Cometh", de Yang Fudong

Esse embate entre realidade e artifício, passado e futuro, é descrito pelo artista como uma forma de “neorrealismo”. “Neorrealismo é uma peça teatral em que condições sociais correntes e contemporâneas são encenadas”, afirmou o artista em entrevista publicada no catálogo de exposição individual recente da Marian Goodman Gallery, de Nova York. “Quem existe realisticamente, o guerreiro em seu costume de época ou o fantasma em trajes modernos?”, indaga. Afinal, o que o guerreiro deve decidir é se desaparece e abandona o campo de batalha ou se continua a lutar, o que, invariavelmente, o levará para o mesmo destino: a morte.

As projeções temporais de “The Nightmare Cometh” podem ser interpretadas em uma dimensão curatorial, já que, afinal, a exposição apresenta uma série de releituras contemporâneas para tradições milenares, como a tapeçaria, a arte têxtil, a arte ornamental, a caligrafia, a tatuagem e até a acupuntura. Em “99 Agulhas”, He Chengyao promove uma aproximação entre Oriente e a tradição ocidental contemporânea da performance. Em ação que presta um tributo ao trabalho da artista sérvia radicada nos EUA Marina Abramovic, de teste dos limites da resistência física, a artista chinesa se autodocumenta em uma sessão de acupuntura em que espeta 99 agulhas em seu próprio corpo, até perder a consciência.

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PAISAGEM MODERNA
"The Landscape Wall", fotografia de Ni Weihua

A exposição tem curadoria da chinesa Ma Lin e da brasileira Tereza Arruda – que há mais de dez anos estuda e acompanha a arte realizada em Pequim, Xangai e Chendu e já realizou diversas curadorias sobre o tema, inclusive no Brasil. Mas talvez essa seja a mais completa mostra da produção artística daquele país jamais realizada por aqui – com fotografia, vídeo, cinema, instalação, videoperformance, escultura –, já que as curadorias anteriores, uma delas no Masp, em 2009, se concentravam em pintura.

No último andar da Oca, coroando a mostra, encontra-se uma obra de Ai Weiwei, o mais politizado, polêmico e midiático artista contemporâneo chinês, que se encontra em prisão domiciliar em Pequim acusado de crimes fiscais – forma dissimulada de censura.

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TOTEM
Escultura de Ai Weiwei com 46 bicicletas

A escultura “Very Yao” é um totem de 46 bicicletas empilhadas, que presta homenagem ao meio de transporte mais tradicional da China, relacionando-o à Torre de Tatlin, Monumento à Terceira Internacional, projeto do arquiteto russo Vladimir Tatlin.

“Também no último andar, quisemos confrontar passado e futuro com as obras de Miao Xiaochun, projetadas em 3D no teto da Oca, e de Cao Fei, que faz referência ao teatro de sombras, refletindo sobre as mudanças que ocorrem na sociedade chinesa hoje”, diz Tereza Arruda.

Fotos: Divulgação