Nos últimos anos, o mercado imobiliário brasileiro cravou uma série impressionante de recordes. Em 2013, os financiamentos para a compra da casa própria somaram R$ 109,2 bilhões, a maior marca da história. Há pelo menos uma década o número de unidades vendidas no País por meio de crédito habitacional cresce acima de dois dígitos. O cenário favorável puxou a construção civil, que viu suas receitas dobrarem desde 2010. Toda essa pujança provocou uma disparada generalizada de preços. No Rio de Janeiro, um apartamento de três dormitórios na zona sul, de frente para o mar, não custa menos de R$ 5 milhões. Há seis anos, o mesmo imóvel podia ser comprado por R$ 1 milhão. Capitais como São Paulo, Belo Horizonte e Porto Alegre conheceram o mesmo fenômeno – e fizeram a fortuna de construtoras, incorporadoras e instituições financeiras. Por todas essas razões, os mais recentes indicadores do setor surpreendem. Em fevereiro, a venda de imóveis residenciais novos caiu 49,1% na cidade de São Paulo. Somados, os meses de janeiro e fevereiro representaram o pior bimestre desde 2004. Com a demanda em baixa, os preços desaceleraram. Pela primeira vez em muitos anos, em 2014 o valor dos imóveis nas maiores cidades brasileiras subiu menos do que a inflação. Isso, afinal, é uma boa ou má notícia?

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CRISE?
Prédio nos Jardins, em São Paulo, em foto da semana passada:
poucos apartamentos vendidos em 2014

Os especialistas entrevistados por ISTOÉ interpretam a desaceleração de preços como um equilíbrio natural do mercado e negam que um colapso imobiliário esteja prestes a acontecer.“O cenário econômico não apresenta nenhum tipo de bolha”, diz Eduardo Schaeffer, presidente do Zap Imóveis. “É apenas um ajuste do mercado após um período extremamente aquecido”, afirma. “Não dá para ser tão aquecido quanto nos anos anteriores, mas o setor continua crescendo”, garante José Carlos Martins, vice-presidente da Câmara Brasileira da Indústria da Construção (CBIC). Para Emílio Kallas, vice-presidente de Incorporação do Sindicato de Habitação de São Paulo (Secovi-SP), a questão central é a preocupação com o que pode acontecer nos próximos meses. “O empresariado está receoso com a economia e espera para lançar os empreendimentos”, diz. “Mas os resultados de 2014 devem ser muito próximos aos de 2013.”

Mesmo com a desaceleração, os preços ainda estão altos. O último índice FipeZap mostra que a média do metro quadrado mais caro do Brasil está no Rio de Janeiro: R$ 10.468. Na orla da zona sul carioca, o valor pode chegar a R$ 40 mil – mais do que a média de Manhattan, em Nova York, que é de R$ 30 mil, segundo dados da imobiliária Douglas Elliman. No ranking dos preços exorbitantes, Brasília aparece em segundo lugar e São Paulo, em terceiro. Os valores nas nuvens impedem que novos negócios sejam fechados. O administrador de empresas Leandro Avellar quer sair da casa dos pais e se casar, mas os preços assustam. “Se não baixarem no segundo semestre, vamos procurar um local mais afastado ou adiar os planos”, diz. Profissional da área de marketing, Conrado Balbinot e sua mulher, Silvana Mello, que trabalha no setor de recursos humanos, tiveram uma experiência que comprova a instabilidade do mercado. Há um ano se interessaram por um apartamento de 70 metros quadrados no Brooklin, bairro nobre de São Paulo, mas desistiram por causa dos R$ 800 mil cobrados pelo dono. Recentemente, o corretor com quem negociavam os procurou, avisando que o imóvel poderia ser adquirido por R$ 594 mil. Nem assim fecharam negócio. “Vamos esperar até que os preços se adequem à realidade”, diz Balbinot.

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ESPERA
Leandro Avellar (acima) aguarda a queda dos preços para adquirir
um imóvel. Enquanto os valores não baixam, Conrado Balbinot
e Silvana Mello preferem pagar aluguel

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Se os preços estão menos agressivos, é hora de ir às compras? Os especialistas afirmam que, em 2014, não deve ser um bom negócio adquirir imóveis para investimento, mas pode ser o momento ideal para quem procura um lugar para morar. “Hoje é melhor do que no ano que vem e pior do que no ano passado”, afirma Kallas, do Secovi-SP. Claudio Tavares, pesquisador e professor do Núcleo da Real Estate da Poli-USP, sugere que a variação da renda seja levada em conta na decisão de comprar. “Se os imóveis estiverem subindo mais do que a sua renda, é a hora certa de comprar”, afirma Tavares.

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Fotos: Kelsen Fernandes, Gabriel Chiarastelli/Agência Istoé