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Em 2007, quando o País conquistou o direito de ser sede da Copa do Mundo de 2014, os manda-chuvas da candidatura brasileira se empolgaram diante dos microfones. “Faço questão absoluta de garantir que será uma Copa em que o poder público nada gastará em atividades desportivas”, disse Ricardo Teixeira, então presidente da Confederação Brasileira de Futebol (CBF). Na mesma linha embarcou o ex-ministro do Esporte, Orlando Silva. “Os estádios para a Copa serão construídos com dinheiro privado”, afirmou. Faltando cerca de dois meses para o Mundial, o jogo do empurra entrou de vez em campo para derrubar sem dó todas as promessas de uma Copa patrocinada pelo setor privado. Em Porto Alegre, o estádio Beira-Rio é um dos três – os outros são Arena da Baixada (PR) e Arena Corinthians (SP) – que, por ser propriedade particular, não deveria, em tese, ser socorrido pelos cofres do governo. Mas está sendo.

Na semana passada, a Assembléia Legislativa gaúcha decidiu uma disputa entre a Fifa, o Internacional, dono do estádio, e a prefeitura de Porto Alegre sobre quem arcaria com os R$ 30 milhões necessários para colocar de pé as estruturas temporárias. Por meio da aprovação de um projeto-de-lei, o dinheiro público entrou na jogada e, assim, as empresas que investirem em tecnologia da informação, segurança e na construção de tendas para a imprensa, entre outros itens, terão 100% de isenção fiscal. Caberia ao Inter, segundo a Secretária Extraordinária da Copa 2014 (Secopa) local, a responsabilidade sobre a execução do trabalho. “Só que o atual presidente do clube afirmou que não teria condições financeiras para arcar com as estruturas”, diz a Secopa.

Com o impasse, o chapéu foi passado entre os gabinetes do poder público e o dinheiro apareceu. “É o gargalo a Copa”, diz o prefeito José Fortunatti (PDT), de Porto Alegre, que cogitou não haver Mundial na cidade caso o projeto não fosse aprovado. O sociólogo Túlio Velho Barreto, da Universidade Federal de Pernambuco, reclama do ínfimo legado dessas estruturas. “Fazem barganha e pressão sobre o poder público perto da Copa por algo que não trará muito retorno ao povo”, diz ele, que é vice-coordenador do núcleo de sociologia do futebol da Fundação Joaquim Nabuco.

Além do Beira-Rio, a Arena da Baixada, no Paraná, e a Arena Corinthians, em São Paulo, foram agraciadas pelo incentivo financeiro do governo. A primeira com R$ 370 milhões. Já para o clube paulista foram repassados, na semana passada, R$ 260 milhões do Banco Nacional do Desenvolvimento (BNDES). O montante representa 65% dos R$ 400 milhões que o Corinthians pretende tomar de empréstimo do banco estatal. Na arena paulista, porém, ainda não foi definido quem irá arcar com os R$ 60 milhões necessários para montar as estruturas temporárias. O presidente do Corinthians Mario Gobbi não acha justo arcar com uma despesa que não trará retorno ao clube. “Usa-se a fase final das obras para fazer chantagem. É um cabo de força, cada um puxando a corda para o seu lado”, diz um dos arquitetos envolvidos na construção de estádios da Copa.

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