Corre à boca pequena nos Estados Unidos que, desde a reconquista do Congresso americano pelos democratas, que projetou a líder da oposição, Nancy Pelosi, as duas outras mulheres mais poderosas dos EUA, a senadora Hillary Clinton e a secretária de Estado, Condoleezza Rice, ficaram estranhamente caladas. Ciúmes? Coisa de mulher? Afinal, Pelosi deve assumir a função de Speaker (presidente da Câmara dos Representantes), o que a colocará como terceira na linha de sucessão, abaixo de George W. Bush e do vice-presidente Dick Cheney. Não importa. O fato é que a ascensão de Pelosi expressa o grau que atingiu a participação das mulheres na política americana. O novo Senado dos EUA terá um número recorde de 16 mulheres, enquanto a Câmara dos Representantes terá 70 deputadas. “É um verdadeiro mar de mudanças com mulheres assumindo poder político”, disse Ellen Malcolm, presidente da Emily’s List, que apóia candidatos democratas. Mas a pergunta que não quer calar é: será que Nancy, Hillary e Condi querem ocupar o lugar que já foi de machões empedernidos como Franklin Roosevelt, John Kennedy e Bill Clinton?

Das três, Nancy Patricia D’Alessandro Pelosi, 66 anos, é de longe a mais liberal – o que na terminologia política americana soa como vagamente “esquerdista”. De fato, ela é a favor da união civil de pessoas do mesmo sexo, do aborto, foi contra a invasão do Iraque pelos EUA e já chegou a propor o impeachment de Bush. Mas, além de católica praticante, Nancy é suficientemente pragmática para arquivar propostas incendiárias e se dispor a trabalhar junto com o agora nocauteado presidente para encontrar uma saída honrosa para o atoleiro americano no Iraque. De qualquer forma, ainda é muito cedo para que ela alimente aspirações maiores. Já Hillary Rodham Clinton, 59 anos, muito criticada e hostilizada no passado por suas posições ultraliberais, fez a travessia do deserto e hoje é considerada uma das vozes conservadoras do Partido Democrata. No afã de ocupar o lugar que já foi do marido na Casa Branca, a advogada que ajudou a derrubar Nixon nos anos 70 votou a favor da guerra no Iraque, não se posicionou sobre a eutanásia e chegou a propor uma lei que transforma em crime a queima da stars and strips (a bandeira americana). Deu resultado: ela venceu a oposição do eleitorado conservador e foi reeleita senadora por Nova York com 67% dos votos. Hoje, Hillary é a franca favorita para ser a candidata dos democratas em 2008.

A menos espalhafatosa é a secretária de Estado Condoleezza Rice, 52 anos. Ela é a segunda mulher (depois de Madeleine Albright) e a segunda descendente de afro-americanos (depois de Colin Powell) a assumir o cargo, que a transformou na mulher mais poderosa do planeta. A moderada Condoleezza é um contraponto aos neocons, atualmente em baixa depois da queda de Donald Rumsfeld. Condi queria ser pianista, mas se formou em ciência política em Stanford. Natural do Alabama, Estado historicamente racista, ela tem sido acusada por parte do movimento negro de não abraçar a causa, embora atribua ao sistema de “ação afirmativa” sua ascensão aos cargos mais altos da República. Até agora, Condi nega ambições políticas maiores. Mas, como se diz, o poder é, talvez, o maior afrodisíaco. A secretária seria imune?