A crença de que a união faz a força tem levado muita gente Brasil afora a lutar contra os preços abusivos praticados no mercado de produtos e serviços. Depois de encher mais de 30 páginas na internet com denúncias de estabelecimentos comerciais que cobram excessivamente caro, os consumidores começam a ser recompensados. Apenas para citar dois exemplos: no Rio, o restaurante Rapadura, no Leblon, zona sul, baixou o preço da tulipa de chope em 15% e admite que o motivo é a pressão popular. Na capital paulista, padaria Santa Etienne, nos Jardins, o valor cobrado pela garrafa de dois litros de Coca-Cola diminuiu de R$ 18 para R$ 12 e, depois, para R$ 9,80. Outros movimentos nesse sentido também são percebidos no comércio de praia carioca e nos bares.

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BOM EXEMPLO
Bar no Leblon, no Rio, diminuiu o preço do chope após mobilização dos consumidores

Tudo começou com o grupo BoicotaSP, em março do ano passado, que inspirou o movimento Rio $urreal, em janeiro. As outras dezenas de páginas abertas, sobretudo no Facebook, vieram na sequência em outros Estados brasileiros. “Decidimos boicotar os lugares que achávamos abusivos. E descobrimos que tinha muita gente querendo fazer o mesmo”, justifica o publicitário paulistano Danilo Corci, 39 anos, fundador do BoicotaSP, com mais de três milhões de acessos e 300 mil denúncias. “O nosso objetivo é estimular o consumo consciente a preço justo”, explica o designer gráfico carioca Flávio Soares, 41, um dos coordenadores do Rio $urreal, com mais de 200 mil seguidores. 

“Não que o nosso chope fosse caro, mas diante da mobilização, chegamos à conclusão que seria mais lucrativo dar uma diminuída. A gente ganha na quantidade”, avalia a gerente do carioca Rapadura, Daniella Mattos, que baixou a tulipa de chope de 300 ml de R$ 6,00 para R$ 5,10. Para o professor do Instituto de Economia da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), João Sicsú, a mobilização da sociedade é tão efetiva quanto qualquer medida governamental. “Em alguns setores específicos, a denúncia pode reduzir ou impedir os aumentos excessivos”, avalia. Os criadores das páginas na internet acreditam que a discussão ajuda a chegar na origem do problema. “O varejista tem que pressionar o fornecedor, que tem de pedir desconto ao fabricante”, diz Corci, do BoicotaSP. Na opinião de Soares, do Rio $urreal, o comerciante leva a culpa porque é a ponta final da cadeia. “Mas tudo oprime o varejista: o aluguel, os impostos e até custos que não deveriam ser assumidos por ele, como segurança e coleta de lixo.” O que não é justo é que essa conta fique apenas para o consumidor. 

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Foto: Masao Goto Filho /Ag. IstoÉ