Médicos da Santa Casa de Misericórdia de São Paulo estão testando, pela primeira vez no País, um método inovador contra a depressão. Chamada de estimulação do nervo trigêmeo, a técnica já foi aplicada em 11 pacientes. Um ainda está em tratamento, mas o restante já o finalizou. Desses, todos relataram uma redução de pelo menos 50% na intensidade dos sintomas da enfermidade – entre eles a vontade de chorar e pensamentos suicidas. “Hoje me sinto outra pessoa, com disposição para viver. O tratamento foi uma revolução na minha vida”, atesta a funcionária pública Ivone Lopes, 55 anos, uma das pessoas submetidas à técnica.

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AVANÇO
Responsável pela experiência, Pedro vai ampliar
o número de pacientes a serem testados

O método consiste na aplicação de estímulos elétricos sobre um dos ramos do nervo trigêmeo, presente na face. O canal nervoso mantém conexões com áreas cerebrais associadas à doença. Dessa forma, conduz os sinais elétricos até elas, o que promove a restauração do equilíbrio da atividade elétrica do local. Esse rearranjo interfere no mecanismo responsável pela doença, daí a diminuição de seus sintomas.

A estratégia vinha sendo estudada na Universidade da Califórnia (Ucla), nos Estados Unidos. Neste mês, o grupo que lá conduz os experimentos publicou uma atualização de seus achados na revista científica “Neurosurgery Clinics of North America”. Novamente, eles concluíram que os pacientes – a maioria portadora da forma grave ou moderada da enfermidade – demonstraram melhora significativa.
Os participantes não deixaram de tomar antidepressivos. Mas, com a evolução do tratamento, diminuíram consideravelmente sua utilização. No futuro, a ideia é que a estimulação substitua a medicação na maioria dos casos ou que pelo menos a reduza à menor quantidade possível.

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Tanto os brasileiros quanto os americanos se preparam para ampliar as pesquisas. Por aqui, a meta é iniciar em breve um novo teste, dessa vez com 40 pacientes. “Eles também farão dez sessões, diariamente, e depois passaremos para aplicações quinzenais”, informa o psiquiatra Pedro Shiozawa, coordenador do laboratório de Neuromodulação da Santa Casa e responsável pela pesquisa. “E eles serão acompanhados por seis meses”, completa. O especialista está à procura de voluntários. Nos EUA, as investigações continuam, enquanto a Neurosigma, empresa que patenteou o sistema, trabalha para obter sua liberação em vários países. “Já está em uso no Canadá e nos países da União Europeia”, contou à ISTOÉ Ian Cook, da Ucla e pioneiro no estudo da técnica. 

 

Eletrodos na coluna para tratar Parkinson

Pesquisadores da Duke University, nos Estados Unidos, e do Instituto de Neurociências de Natal acabam de comprovar que o uso de estímulos elétricos é eficaz contra os sintomas da doença de Parkinson. O experimento, feito com ratos, consistiu no implante de eletrodos na medula espinhal conectados a um gerador portátil para desfechar sinais elétricos nessa estrutura. Após seis semanas de terapia, os cientistas concluíram que o método melhorou a coordenação motora e ajudou a reverter a perda de peso associada à evolução da doença. Testes anteriores haviam demonstrado essa ação apenas por períodos breves. “Precisamos de opções de longo prazo. A estimulação da medula espinhal tem esse potencial”, disse o cientista brasileiro Miguel Nicolelis, que liderou a pesquisa, publicada na semana passada na edição online da revista “Scientific Reports”.

Foto: Gabriel Chiarastelli