"Brasil já vai à guerra, comprou porta-aviões. Coitado, coitadinho, do povo do Brasil.” Os versos irônicos do menestrel Juca Chaves davam bem o tom de chacota que cercava a compra do porta-aviões Minas Gerais. Adquirido da Inglaterra, em 1956, depois de participar da Segunda Guerra, o “Minas” já na época era considerado sucata e sua compra foi muito questionada. A partir de 1965, quando o presidente Castello Branco baixou um decreto que proibia a Marinha de usar aviões militares, o Minas Gerais passou a ter uma função meramente secundária. Serviu até de palco para festas. Em 1997, a Marinha pôde finalmente comprar seus aviões: foram 23 jatos A4 Skyhawk, adquiridos do Kuwait por US$ 83 milhões. Como o Minas Gerais está no limite de sua vida útil, oficiais da Marinha defendem a idéia de que o País precisa ter um novo (nem por isso tão jovem) porta-aviões para abrigar seus (nem tão modernos) jatos.
Foi neste contexto que teve início a novela envolvendo o Foch, um porta-aviões francês construído no início dos anos 60, utilizado recentemente na Guerra do Kosovo. A França se esforça para vendê-lo porque em outubro deverá lançar ao mar o Charles de Gaulle, movido à propulsão nuclear. O Foch aportou no Rio na semana passada e, ao partir, na quarta-feira 12, além da polêmica sobre a conveniência de sua compra, deixou um imenso rastro de fumaça negra, que teria sido causada pela queima de óleo usado para aquecer a água que movimenta as turbinas. O Corpo de Bombeiros foi acionado. A Secretaria Municipal de Meio Ambiente tentou, em vão, notificar os responsáveis.
A bordo estiveram dezenas de oficiais e especialistas da Marinha, escalados para checar as condições do navio. O objetivo era verificar se o Foch poderá ser operacional ao Brasil durante pelo menos 15 anos. Os que defendem a compra alegam, sobretudo, que se trata de uma pechincha. Os franceses estariam pedindo US$ 60 milhões, mas há quem afirme que o negócio pode ser fechado por US$ 35 milhões. Um navio novo, deste porte, pode chegar a US$ 400 milhões. “O Foch serve perfeitamente para operarmos os A4”, alega o almirante Armando Vidigal, consultor da Escola de Guerra Naval. O ex-ministro da Marinha, almirante Mário Cesar Flores, é contra: “É melhor esperar mais dez anos para termos um porta-aviões novo, e deixar esse assunto com o Congresso.” O almirante Hernani Fortuna, do Conselho Estratégico da Escola Superior de Guerra, polemiza. “O Foch, além de não ser sucata, é um porta-aviões que pode modernizar a Marinha; é muito melhor comprá-lo pelo preço módico oferecido pela França do que esperar dez anos por um navio a ser construído no Brasil ou no Exterior.”

 


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