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`Todos os musicais de Chico Buarque em 90 minutos’ comemora os 70 anos de um dos maiores
cantores e compositores da música brasileira. Confira no vídeo acima

Chico Buarque de Hollanda completa 70 anos em 19 de junho mas não pretende programar sequer um bolo para comemorar a data. Pelo menos no Brasil. Segundo pessoas próximas ao cantor, ele não deve passar o aniversário no País. Provavelmente apagará as muitas velas em Paris, onde o também escritor tem residência. Ele estará ocupado em terminar o seu novo romance, cujo tema é mantido no mais absoluto sigilo pela editora Companhia das Letras, que prevê seu lançamento para setembro. Integrante do grupo “Procure Saber”, que causou recente polêmica ao pregar censura às biografias não autorizadas, Chico tem, no entanto, permitido aos que querem lhe render homenagens dispor de seu vasto repertório musical. Isso vale para produções teatrais ou cinematográficas. Ou seja: Chico liberou sua valiosa biografia artística.

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Empresário e braço direito do compositor, Vinicius França confirma o momento de generosidade. “Todos os projetos que chegaram ao Chico foram autorizados”, revelou à ISTOÉ, esclarecendo que as produções contempladas “são de pessoas que trabalharam com ele no passado”. A primeira a vir à luz é o espetáculo “Todos os Musicais de Chico Buarque em 90 Minutos”, de Claudio Botelho e Charles Möeller, que estreou na quinta-feira 9, no Teatro Clara Nunes, no Rio de Janeiro. Em 20 anos, Botelho e Möeller montaram 36 peças, sendo que seis delas tiveram como inspiração o repertório de Chico. “Ele nos deu carta branca”, diz Botelho. Mas é uma liberdade vigiada: “O Vinicius França tem acompanhado todo o processo, inclusive a escolha de músicas.”

A dupla não se sentiu tolhida na criação, pois já fez o mesmo tipo de espetáculo usando a obra de Milton Nascimento. “Mostramos tudo, qualquer mudança no roteiro. A gente não quer encher o saco do Chico”, afirma Möeller, que correu para ser um dos primeiros a homenageá-lo. “Todos os Musicais de Chico Buarque em 90 Minutos” narra os as aventuras de uma companhia mambembe que roda o Brasil parando em pequenas cidades – as praças foram nomeadas fazendo referências a livros do compositor.

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MAMBEMBE
A trupe, com o diretor Claudio Botelho ao centro: grupo interpreta

O fio condutor são 49 canções feitas por Chico Buarque especialmente para teatro, cinema e televisão. A inspiração no filme “Bye, Bye Brasil”, de Cacá Diegues, embalado pela música homônima, do CD “Vida”, é óbvia e norteia o roteiro. Além de codirigir, Botelho interpreta o dono da companhia, que enfrenta problemas de memória, a ponto de não saber mais quem é a própria mulher, vivida por Soraya Ravenle.

O título do espetáculo cria a falsa expectativa de que, finalmente, as novas gerações assistirão a passagens do antológico “Roda Viva”, dirigido por Zé Celso Martinez Corrêa, em 1967. Nada disso. Primeiro porque, nesse caso, Chico é inflexível: não permite que qualquer grupo leve aos palcos a sua primeira peça por achá-la pertencente a outro contexto. E nem é essa a proposta do musical, que usa apenas as canções teatrais ou referentes a personagens de filmes para alinhavar uma história que poderia ter saído de sua lavra. Além de “Roda Viva”, as músicas vieram de “Calabar” , “Gota d’Água” , “Ópera do Malandro”, “O Corsário do Rei” e outras peças. Não se esqueceu do balé “Grande Circo Místico” nem dos temas de filmes como “Quando o Carnaval Chegar”, “Dona Flor e Seus Dois Maridos” e “Para Viver um Grande Amor” . “Além das canções, vamos mostrar as relações pessoais nos bastidores da trupe”, revela Botelho, que trabalhou quatro meses para pôr o espetáculo de pé.

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SENSUAL
Cena da música "Tatuagem", composta originalmente para a peça

O custo é de R$ 2 milhões. Nem precisaria de muito, diante da indispensável sequência de clássicos da MPB. “Tatuagem”, parceria com Ruy Guerra, veio de “Calabar”. “Ópera do Malandro” forneceu “Pedaço de Mim”, “O Meu Amor” e a insubstituível “Geni e o Zepelim”. Na seleção do repertório, os diretores optaram por uma canção nunca gravada por Chico, da qual nem ele se lembrava: “Invicta”. Ela será incluída no CD, a ser lançado durante a temporada que chega a São Paulo em agosto e se estende a Portugal em novembro. Embora tenha mantido distância da criação, Chico garantiu que assistirá ao musical antes de se enfurnar no Marais, onde fica o seu apartamento parisiense. Estão previstos outros tributos e, no mesmo clima de festa – embora já tenha dito que detesta fazer aniversário –, vai retribuir o público brasileiro com dois shows, um no dia 19 de fevereiro, no Rio, e outro no dia seguinte, em São Paulo. A renda de ambos será doada para a escola de samba predileta do cantor, compositor e escritor: a Mangueira.

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Fotos: Masao Goto Filho /Ag. Isto É; Divulgação