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Uma das folhas mais consumidas no mundo, a alface não é exatamente uma hortaliça celebrada por suas propriedades nutricionais. Nos últimos anos, então, passou a ser sinônimo de alimento perfeito para quem pretende emagrecer, por conta de seu reduzido valor energético. Cerca de 96% do peso de uma folha de alface é água.

Agora, no entanto, pesquisadores da Embrapa estão querendo transformar essa folha, que já é consumida pela humanidade desde 500 a.C., em uma importante arma no combate de um problema recorrente e sério no Brasil: a má-formação de fetos. Hoje o País apresenta a preocupante taxa de 1,6 bebê com algum tipo de má-formação para cada grupo de mil nascimentos, taxa superior à média mundial, que é de 1,3 para cada grupo de mil.

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O pesquisador Francisco Aragão acredita que em até
cinco anos a superalface estará na mesa dos brasileiros
 

O problema é causado, em grande parte, pela carência de ácido fólico, a vitamina B9, na população brasileira, em especial nas mulheres em idade fértil. A carência dessa vitamina pode provocar má-formação do tubo neural dos fetos, causando defeitos na formação cerebral e na coluna espinhal. É aí que entra a alface.

Os pesquisadores da Embrapa estão conseguindo ampliar em até 1.600% a concentração de ácido fólico na superalface brasileira. Todo o processo para turbinar a alface é feito por biofortificação, um melhoramento genético. O projeto surgiu como estratégia de combate à desnutrição nos países em desenvolvimento, com enfoque na redução da deficiência de micronutrientes. A princípio, o alvo era a população carente, que em sua maioria se alimenta mal, explica Francisco Aragão, pesquisador da Embrapa e coordenador do projeto da superalface. No entanto, diz ele, a população em geral passou a apresentar a chamada “fome oculta”, que não é a falta de comida ou calorias, mas um déficit de alguns nutrientes devido a uma alimentação inadequada.

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Hoje a Organização Mundial da Saúde recomenda que sejam ingeridos 400 microgramas de ácido fólico por dia. Uma folha de alface pequena, com cerca de 20 gramas, contém algo próximo a 14 microgramas da vitamina. Já a superalface desenvolvida pela Embrapa tem uma concentração 15 vezes maior. Na prática, isso significa que com a ingestão de apenas duas folhas pequenas de alface está suprida a necessidade diária de um adulto.

“É uma forma de educação nutricional para a saúde pública, com a vantagem de não incentivar a população ao alto consumo de carboidratos por meio de farináceos”, diz a nutricionista Lucyanna Kalluf. Ela se refere a uma resolução da Anvisa, de 2002, que determinou a adição obrigatória de 150 microgramas de ácido fólico nas farinhas de trigo e milho.

Atualmente o projeto está em fase de ensaio no campo experimental da Embrapa, em Brasília. A estimativa é de que ainda sejam necessários cinco anos até que a superalface possa finalmente ser liberada para o consumo em todo o País.

Fonte: Embrapa