Klaxon em Revista/ Vários Autores/ Cosac Naify/ ICCo/ R$ 90

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É bastante sintomático que o primeiro texto da primeira edição da revista “Klaxon” tenha sido publicado em francês. Embora o famoso mensário de arte moderna, editado entre 1922 e 1923, em São Paulo, tenha refletido a vontade de seus editores de se contrapor aos cânones “passadistas” de uma Europa acadêmica, era na França que, naquele momento, ganhavam terreno os movimentos vanguardistas de renovação estética. Em Paris, em 1917, a apenas cinco anos do lançamento de “Klaxon”, Marcel Duchamp se apropriara de um urinol de porcelana, intitulara “Fonte” e assinara “R.Mutt”. O acontecimento foi incensado no editorial do número 1 da revista. Segundo a redação, a revista nascia na era de Mutt, de Carlito, “era do riso e da sinceridade”. É sintomático, também, que uma revista que surgia para afirmar uma linguagem brasileira adotasse como título o nome de um produto importado. Klaxon era uma famosa marca americana de buzinas para automóveis. Esses dois sintomas, na verdade, traduzem bem o que foi o modernismo brasileiro: o impulso de “devorar”, digerir e reprocessar as influências da cultura europeia, afirmando uma identidade brasileira a partir da miscigenação cultural.

Essa visão do que foi a “Klaxon” é possível hoje graças à reedição integral dos nove números da revista em fac-símiles feitos a partir dos originais, mantidos na Biblioteca Brasiliana José e Guita Mindlin, da USP. Coeditada pela Cosac Naify e ICCo (Instituto de Cultura Contemporânea), a caixa “Klaxon em Revista” contém ainda um décimo número, concebido pelos artistas contemporâneos Marilá Dardot e Fabio Morais como um encarte extratexto. Os extratextos eram partituras e desenhos encartados na “Klaxon”, produzidos especialmente por jovens artistas como Di Cavalcanti, Anita Malfatti e Heitor Villa-Lobos, participantes da Semana de Arte Moderna de 22. A revista “Klaxon” foi a primeira ação pós-Semana de 22, realizada pelo mesmo grupo que subiu ao palco do Theatro Municipal de São Paulo, produzindo um autêntico buzinaço na cultural local. Ao longo de quase um ano, reuniu mensalmente poemas, crônicas e resenhas de autores como Mário de Andrade, Oswald de Andrade, Guilherme de Almeida e Sergio Buarque de Hollanda. Desapareceu em fevereiro de 1923, para alívio dos tradicionalistas de plantão, vítima da falta de engajamento de anunciantes. Um mal das revistas culturais, já quase centenário no Brasil.

Divulgação Cosac Naify e ICCo

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