Secret Codes/ Códigos Secretos/ Galeria Luisa Strina/ até 22/2/14

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MISTÉRIO
“Quad 1”, peça de Samuel Beckett para a televisão, é uma obra que se vale do hermetismo do texto

Antes do verbo, há a protoescrita. Antes que a linguagem se forme, articulada pelas convenções sociais, há apenas a intenção de comunicar. O grito gutural. É com os rabiscos e os desenhos guturais da artista feminista americana Mary Beth Edelson que se inicia o circuito linguístico de “Secret Codes”, exposição coletiva organizada para celebrar o 40º aniversário da galeria Luisa Strina, em São Paulo. É apontando para o caráter espontâneo, imediato, original, livre e ilegível de certas escritas que o curador espanhol Agustín Pérez Rubio dá início a um roteiro expositivo pelos diversos estágios dos signos e dos códigos na vida e na cultura contemporânea.

Cartas, cartazes, planilhas, páginas de livros e outdoors são os suportes da maioria dos trabalhos expostos. Esta é, afinal, uma exposição sobre os sistemas de comunicação. Da protoescrita de Mary Edelson e do artista autista Christopher Knowles, avançamos para a segunda fase dos códigos, no uso crítico que artistas como Antoni Muntadas, Dora Garcia, Bernardo Ortiz ou Anna Maria Maiolino fazem deles, em sua aplicação no contexto da publicidade, da mídia, da literatura ou da poesia.

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EM SEGREDO
“Secret Poem”, de Anna Maria Maiolino, é uma carta secreta da série “Mapas Mentais”
 

O percurso dos signos passa então pelas mensagens cifradas de Cildo Meireles nas notas de dinheiro, em sua ampla série “Inserção em Circuitos Ideológicos”, até chegar aos textos de complexidade indecifrável. Os códigos secretos. Aqui está, por exemplo, um vídeo de Dora Garcia sobre um grupo de estudo do livro “Finnegans Wake”, de James Joyce, que leva 11 anos para completar a primeira leitura da obra. Ou a abstrata peça de Samuel Beckett para a televisão, “Quad 1”.

Talvez a única lacuna marcante da exposição seja não entrar no território dos algoritmos, mas o curador optou realmente por um recorte histórico. Com trabalhos que datam dos anos 1960 até hoje, a exposição apresenta obras seminais da história da arte conceitual, como uma pintura da série “Today”, do artista japonês On Kawara, pela primeira vez exposta no Brasil.

Fotos: SWR/ Hugo Jehle; Isabella Matheus; cortesia Galeria Luisa Strina;