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Em meio às constantes polêmicas em torno da construção das megausinas hidrelétricas na Amazônia, como Belo Monte ou Jirau, a energia eólica, aquela gerada a partir dos ventos, sempre é lembrada como uma alternativa limpa, com pouco ou praticamente nenhum impacto na natureza. O governo brasileiro, assim como muitos países mundo afora, tem investido de forma maciça na ampliação de seus parques eólicos. A estimativa do Ministério das Minas e Energia é de que em dez anos a energia produzida a partir dos ventos responda por quase 10% de toda a matriz energética brasileira. Hoje esse percentual não chega à casa dos 2%.

Com o crescimento cada vez maior dos parques eólicos, tanto no Brasil quanto no restante do mundo, um volume cada vez maior de evidências tem mostrado que a geração de energia pelo vento não é tão verde quanto se imaginava. O caso mais recente aconteceu nos Estados Unidos, no mês passado, quando a Justiça americana multou a Duke Energy, responsável por diversas usinas eólicas no meio-oeste do país, por desrespeitar tratados que protegem pássaros migratórios. A companhia recebeu uma pena de US$ 1 milhão por conta da morte de 14 águias douradas – ave ameaçada na América do Norte, assim como outros pássaros, vítimas das gigantescas pás que fazem girar as turbinas.

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PUNIÇÃO
A Duke Energy foi multada em US$ 1 milhão pela morte de
14 águias douradas, que se chocaram com as torres de geração

O problema não é exatamente novo. Nos anos 80, parques eólicos como Altamont Passa, na Califórnia (EUA), Tarifa e Gilbratar, na Espanha, se tornaram notórios pelo alto índice de mortalidade de aves na região e as usinas tiveram de ser desligadas em período de migração para evitar maiores danos.

No Brasil, de acordo com a presidente da Associação Brasileira de Energia Eólica (ABEEólica), Elbia Melo, essa é uma questão superada, já que aqui a atividade é recente e os parques já foram instalados considerando-se as novas diretrizes do setor, como torres mais altas (100 metros, contra 30 metros no passado). Segundo ela, o índice de mortes de aves causadas por choque contra turbinas é muito baixo.
Contudo, justamente pela história recente do setor no País, ainda seria desconhecido o impacto sobre aves e morcegos dos 140 parques eólicos em operação no Brasil, argumenta Pedro Develey, diretor da Sociedade para a Conservação das Aves do Brasil (Save). “Precisamos de monitoramentos mais eficientes para entender o que acontece de fato”, diz.

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No Complexo Eólico Corredor do Senandes, no Rio Grande do Sul, existe o temor de que o planejamento não tenha levado em conta toda a diversidade de aves da região. Para o ornitólogo e professor de ecologia da Universidade Federal de Pelotas, Rafael Antunes Dias, os estudos feitos até agora não garantem que os pássaros estarão imunes ao parque eólico, instalado em uma área de 80 mil hectares, onde vivem cerca de 210 espécies de aves, e que começa a operar no início de 2014. “A região é reconhecida internacionalmente pela BirdLife International como uma IBA (Área Importante para a Conservação das Aves, em inglês), por abrigar populações significativas de espécies ameaçadas de extinção”, explica Rafael. “Tem de ter um monitoramento efetivo.”

O tempo e os ventos vão dizer se as empresas e os órgãos ambientais brasileiros estão levando em conta os riscos que as usinas eólicas podem representar para o meio ambiente. 

Foto: Europics/ Newscom/ glow images