Mineiro de alma carioca, o senador Aécio Neves (PSDB-MG) costuma repetir, como um mantra, que “Presidência é destino, muito mais do que projeto”. Em 2013, Aécio trabalhou como nunca para que o destino lhe seja favorável na disputa presidencial de 2014. Quem tentava enxergar na frase, cunhada por ele, um certo ar descompromissado com o seu futuro político frustrou-se: este ano, Aécio vestiu o figurino de candidato da cabeça aos pés. “Estou andando mais do que notícia ruim”, admitiu Aécio na quarta-feira 27 em entrevista à ISTOÉ. Aos 53 anos, o tucano deu passos concretos, tanto na esfera política como na vida pessoal, para chegar lá. Ao assumir o comando do PSDB, em maio, encarnou o espírito conciliador que corre em suas veias – assim como Aécio, o avô, Tancredo, dominava a arte de apaziguar os opostos e conciliar os contrários, características essenciais da boa política. Em pouco tempo, Aécio unificou o partido, removeu obstáculos internos – conseguindo domar até aquele diabinho que, segundo FHC, habita em José Serra, seu principal adversário no PSDB –, aglutinou as principais legendas de oposição e consolidou sua candidatura ao Palácio do Planalto.“As coisas estão correndo bem. O resultado não precisa vir hoje, mas tenho certeza que, em 2014, o sentimento de mudança vai prevalecer”, afirma Aécio, premiado pela Editora Três como o Brasileiro do Ano na Política.

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CONCILIADOR E LÍDER
Hábil na arte da política, Aécio Neves uniu o PSDB e se firmou como principal
líder da oposição. Em 2014, pretende encarnar o sentimento de mudança

Sua convicção está ancorada na leitura que faz a respeito das recentes pesquisas. Hoje, o tucano oscila entre 16% e 18%, dependendo do cenário, contra 43% de Dilma Rousseff. O quadro mais alvissareiro, para ele, é o que mostra que mais de 60% dos eleitores anseiam por mudança. Isso explica seu atual estado de ânimo. “Na campanha, nossa candidatura irá canalizar esse sentimento dos que querem mudar o que está aí”, acrescenta. O senador lembra que, nesse mesmo período, em 2009, a presidenta Dilma Rousseff tinha apenas 17% de intenções de voto. “Dilma só foi ultrapassar José Serra (então candidato do PSDB) no fim de julho de 2010. Mas o brasileiro queria a continuidade. Ela encarnou isso na campanha e venceu”, disse.

Além de intensificar as viagens, em 2013, Aécio
aumentou o tom das críticas ao governo

Enquanto elabora raciocínios para atestar sua confiança eleitoral, Aécio aperta o passo, como diz o documento de fundação do PSDB, “longe das benesses oficiais e perto do pulsar das ruas”. Nas últimas semanas, intensificou viagens com foco nas regiões Nordeste, Norte e no Estado de São Paulo, locais onde é menos conhecido. Recentemente, Aécio esteve em Manaus e visitou quatro Estados do Nordeste. Em Mauriti (CE), gravou imagens para o programa eleitoral em meio aos canteiros de obras da transposição do rio São Francisco.

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PÉRIPLO PELO PAÍS
Em suas andanças pelo Brasil, Aécio participou, em agosto,
da Festa do Peão de Boiadeiro, em Barretos

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O projeto é uma das prioridades do governo Dilma. Pelos cálculos do governo, deveria estar concluído no fim do ano passado. “É muita propaganda e pouca ação”, afirmou Aécio, que, desde que assumiu a presidência do PSDB, recrudesceu o discurso de oposição e passou a marcar o governo em cima. O objetivo é não deixar o governo respirar em nenhum tema. Ao menor sinal de escorregadela do governo, Aécio coloca a boca no trombone. “O Brasil tornou-se um grande cemitério de obras inacabadas por causa da falta de habilidade do PT para atrair investimentos e melhorar a infraestrutura”, disparou o tucano em recente ida a Porto Alegre. Nos próximos dias, Aécio retorna ao interior de São Paulo. Em outubro, o tucano cumpriu mais de dez agendas públicas no Estado paulista. Os compromissos foram dos mais variados: de Festa do Peão de Boiadeiro e visita ao Hospital do Câncer, em Barretos, a encontro com lideranças em São José do Rio Preto e na capital. “Teremos dez encontros nas próximas duas semanas. A maioria com entidades de classe”, conta Aécio. Segundo Marcus Pestana, presidente do PSDB mineiro, Aécio é conhecido apenas por 50% da população. “Ele nunca frequentou o noticiário nacional, o que vai acontecer na campanha com as inserções na televisão, que são o mais importante”, avaliou.

Se, na política, o senador mineiro tem gastado sola de sapato como nunca, na vida privada também tem passado por algumas transformações. No início do ano, para conferir aos seus traços uma aparência mais jovem, fez um refrescamento no rosto (pequenos preenchimentos de gordura) e uma blefaroplastia (retirada das bolsas dos olhos). Segundo amigos próximos, Aécio também mudou alguns hábitos. Hoje, dorme mais cedo e é mais intransigente com o horário. O tucano nega: “As pessoas não mudam. Eu não mudei meus costumes.” Mas existe uma mudança de hábito maior na vida de um homem do que um casamento? Aécio ri e capitula: “É… a patroa apertou, casamos”, reconhece ele, para, em seguida, complementar com ar mais sério. “Já estávamos morando juntos havia três anos. Na verdade, foi uma motivação mais pessoal do que política”, assegura. A união com a ex-modelo Letícia Weber ocorreu em outubro numa cerimônia reservada apenas para familiares e amigos mais próximos. Um hábito, de fato, Aécio não prescindiu de mudar. Sua residência no Rio continua sempre bem concorrida e aberta aos amigos. O endereço carioca de Aécio fica na avenida Vieira Souto, um dos metros quadrados mais caros do País. O apartamento, de 250 m2, passou por uma reforma recentemente. No imóvel redecorado, chama a atenção de quem entra uma obra de Vik Muniz, artista plástico brasileiro radicado em Nova York, retratando a praia de Ipanema em cor chocolate. Lá Aécio costuma receber, além de políticos, integrantes de seu círculo íntimo de amigos, como Luciano Huck, Alvaro Garnero, Luiz Calainho, Alexandre Accioly e o ex-jogador Ronaldo Fenômeno.

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VIDA NOVA
Em cerimônia discreta, no Rio, para poucas pessoas,
Aécio selou a união com a ex-modelo Letícia Weber

Formado em economia pela PUC-MG, Aécio deu os primeiros passos na política pelo PMDB, partido de Tancredo. Mais tarde, se transferiu para o PSDB. Foi deputado federal de 1986 a 2002. Em 2002, elegeu-se governador de Minas Gerais, com 58% dos votos – votação recorde no Estado até então. Em 2006, veio a reeleição com uma vitória ainda mais avassaladora: 77,03% dos votos válidos.  Em 2004, já à frente do governo de Minas, criou o programa Choque de Gestão, enxugando o tamanho do Estado. Extinguiu cargos e cortou até o próprio salário. O resultado apareceu dois anos depois: o déficit zero nas contas públicas. Sua popularidade explodiu e Aécio tornou-se um dos governadores mais bem avaliados do País.  Ao assumir, em 2010, uma cadeira no Senado Federal, com sete milhões de votos, o tucano transformou-se no maior nome da oposição ao PT. No próximo ano, quando oficializar sua candidatura ao Planalto, Aécio levará consigo os anseios de parte da população que não suporta mais conviver com o PT no poder. O discurso para se contrapor a 12 anos de Lula e Dilma está quase pronto.

O senador tucano promete enxugar a máquina pública, acabar com
o intervencionismo estatal e apresentar um novo projeto de governo

Ao lado dos ideólogos do Plano Real, como André Lara Resende e Edmar Bacha, e daqueles que o colocaram em prática, como Armínio Fraga, Aécio dá um tom liberal ao futuro programa de governo. Promete acabar com o aparelhamento do Estado, enxugar a máquina pública e acabar com o intervencionismo estatal. “Tem político que adora dizer que mudou o Brasil, mas quem muda o Brasil todo dia é o brasileiro que acorda cedo para chegar ao trabalho”, ensaia Aécio num discurso certeiro que todo brasileiro gosta de ouvir. O que acontecerá em 2014? Com a palavra, as urnas.

Fotos: João Castellano/Ag. Istoé; Divulgação; Rafael Hupsel/Ag. Istoé


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