Foram apenas 45 segundos, quase uma eternidade. Os habitantes da cidade de Izmit, uma comunidade industrial a cerca de 120 quilômetros a leste de Istambul, dormiam o sono dos justos. Eram 3h02 da manhã da terça-feira 17 (21h02 da segunda-feira em Brasília) quando foram surpreendidos por um violento tremor vindo das entranhas da terra. A devastação atingiu o Noroeste da Turquia, região onde está um terço da população do país. O terremoto avassalador, de 7,4 graus na escala Richter (que vai até 9), arrasou prédios, minaretes, pontes, postes de energia. Até sexta-feira 20, dez mil corpos tinham sido retirados dos escombros. O número total de vítimas pode passar de 40 mil, o que faria deste o pior terremoto do século na Turquia.

Até o ex-goleiro da Seleção Brasileira Cláudio Taffarel, que mora em Istambul há um ano, teve sua casa atingida. "Ele só me disse para eu não me preocupar, mas senti sua voz muito nervosa", disse Lurdi, mãe do jogador. A mulher de Taffarel, Andréa, contou a ISTOÉ por telefone que a família – o casal e dois filhos – não sofreu nenhum ferimento e está alojada numa concentração do Galatassaray, o clube do jogador. "O que mais impressiona é que famílias inteiras atenderam a um alerta do governo e dormem nos parques públicos e nas praias", disse Andréa.

O resgate dos sobreviventes virou uma luta contra o tempo: não havia gente nem equipamento suficiente para tanto trabalho. Vários países, inclusive a rival Grécia, enviaram equipes de socorro, cães farejadores e medicamentos. Izmit virou terra arrasada. Em meio a escombros, entulho, gritos e cheiro de carne putrefata, equipes empregavam retroescavadeiras, guindastes, martelos pneumáticos e até as mãos na tentativa de encontrar sobreviventes. Cenas dramáticas se sucediam. "De um prédio, retiraram uma mulher com a cabeça estraçalhada e sem pernas. Enrolaram-na num cobertor e a colocaram num caixão de madeira barato, aos gritos de Alá!, Alá!", contou o jornalista inglês Robert Fisk. Em meio a tanta dor, os poucos casos de salvamentos viraram verdadeiras epopéias, como o do menino Akin Sirnen, de seis anos. "Tive muitos sonhos lá embaixo. Estava muito escuro."

A demora do governo em mobilizar o trabalho de resgate enfureceu os sobreviventes. A fúria também se dirigia às construtoras que ergueram tantos edifícios precários sobre a linha de uma falha geológica. Além da estrutura de concreto e tijolos, os prédios geralmente foram construídos com muito mais andares do que os autorizados oficialmente. O toque de insensibilidade ficou por conta do primeiro-ministro, Bulent Ecevit, que declarou que o incêndio da refinaria de petróleo da estatal Tupras, em Esmirna, foi "o problema mais grave provocado pelo terremoto".

Colaborou Daniel Rittner

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